
Apesar de reconhecer a trajetória da população negra na História do país, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira, ainda não tem o reconhecimento que lhe é devido, diz o pesquisador e jornalista Wagner Machado, doutor em Comunicação Social pela PUCRS, e vice-secretário da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sua tese abordou os doutorandos negros brasileiros nos programas de pós-graduação em Comunicação no RS.
Feriado nacional desde 2023, a data foi proposta em Porto Alegre ainda na década de 1970 pelo poeta Oliveira Silveira, um dos idealizadores do Grupo Palmares, e marca o aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história do país e símbolo da resistência contra a escravidão. Porém, passadas mais de cinco décadas do reconhecimento da efeméride, existe a sensação de avanços, segundo Machado, porém o reconhecimento é desigual e superficial, muitas vezes.
“Em alguns locais, a data é vista apenas como um dia de folga, sem aprofundamento no seu significado”, lamentou ele. “Esta data nos lembra que não há identidade brasileira sem a presença e o protagonismo da população negra. O 20 de Novembro chama atenção para problemas estruturais, como racismo, desigualdade de oportunidades e representatividade, incentivando políticas e ações afirmativas. Além disso, valoriza a cultura afro-brasileira e legitima discussões que muitas vezes não ganham espaço ao longo do ano”, observa o pesquisador.
Assim, existe a visão de que a luta antirracista deve perdurar o ano todo, por meio do enfrentamento ao racismo e políticas públicas mais igualitárias. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), as ocorrências de injúria racial saltaram 41,4% no país entre 2023 e 2024, com 18,2 mil ocorrências.
O racismo em si também apresentou crescimento no período, de 26,3%, para 18,9 mil ocorrências. Quanto a este último crime, o anuário apontou que o Rio Grande do Sul ficou em segundo lugar nacional na taxa de registros por 100 mil habitantes, com 22,1, perdendo apenas para o Distrito Federal, com 30. No RS, houve 2.482 ocorrências de racismo, queda de 1% sobre 2023, quando houve 2.508.
Já quanto à injúria racial, que somente em 2023 foi tipificada na chamada Lei do Racismo, a Lei 7.716/89, o RS teve taxa de 13,7 ocorrências por 100 mil habitantes, muito abaixo de Santa Catarina, Distrito Federal e Rondônia, que lideram. Em números absolutos, houve 1.543 ocorrências, aumento de 34,9% nos casos ante 2023, com 1.144. “Embora a data seja importante, o reconhecimento real só será alcançado quando houver mudanças mais profundas na prática”, pontuou Machado.
Fonte: Felipe Faleiro / Correio do Povo