
A enfermeira e ex-prefeita de Cristal, Fábia Richter, tomou posse nesta segunda-feira (6) como secretária da Mulher do Rio Grande do Sul. A cerimônia, realizada no Palácio Piratini, foi conduzida pelo governador Eduardo Leite e marcou oficialmente o início das atividades da nova pasta. Na mesma solenidade, a delegada de Polícia Viviane Nery Viegas assumiu o cargo de secretária-adjunta.
A criação da Secretaria da Mulher foi aprovada pela Assembleia Legislativa a partir de um projeto de lei enviado pelo governo do Estado. A iniciativa ganhou força após o feriado de Páscoa, quando o Rio Grande do Sul registrou dez feminicídios em apenas quatro dias.
Em sua primeira manifestação, Fábia destacou que o foco de sua gestão será atuar de forma preventiva, fortalecendo a rede de acolhimento e o diálogo com a sociedade. Segundo ela, a prioridade é evitar que as situações de violência cheguem ao ponto extremo. “A ideia não é olhar para a morte, a morte é uma consequência. Vimos que 75% dos feminicídios não têm medida protetiva e não chegaram à segurança. Temos que agir preventivamente. Vamos falar com a sociedade em todos os níveis, dialogando com diferentes segmentos, desde o setor público até entidades, além de espaços que discutem espiritualidade. Cuidar da pauta da mulher é cuidar das pessoas, das famílias e da sociedade”, afirmou.
Ela ressaltou ainda a importância de uma mudança cultural para romper com a omissão diante da violência. “Esperamos que as pessoas também possam avisar mais e que a gente esqueça aquele ditado de que ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’. Nós vamos intervir para que essa briga e esse desentendimento não terminem em agressão severa, com a morte de uma mulher”, completou.
O governador Eduardo Leite destacou que cada caso de feminicídio representa uma falha coletiva e reforçou a necessidade de ampliar o acolhimento às vítimas. Segundo ele, o Estado precisa estar preparado para ouvir, agir e garantir proteção. “Quando morre uma mulher, todos morremos um pouco juntos. Uma pessoa que sofre violência ou morre por conta do gênero não pode ser admitida sob nenhuma condição. Se 75% dos casos de feminicídio não tinham medida protetiva antes, isso significa que falhamos em promover o acolhimento dessas mulheres. Vamos ampliar os serviços para que nenhum caso de violência contra as mulheres fique sem ser notificado”, afirmou.
Leite também defendeu que o enfrentamento à violência contra a mulher deve ser entendido como um compromisso coletivo, e não apenas de governo. “Não é simplesmente sobre campanhas publicitárias, mas sobre mudança de cultura, sobre engajamento e mobilização. A Fábia falou muito bem: é preciso chamar todos os atores da sociedade. Essa não é uma causa apenas do governo ou da secretaria, é uma causa da sociedade como um todo, e todo mundo precisa comprá-la junto”, concluiu.
A nova estrutura da Secretaria da Mulher foi articulada pela Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) e contará com dois departamentos e três frentes principais: enfrentamento à violência contra as mulheres, fortalecimento das redes de acolhimento e ampliação da autonomia financeira das mulheres em situação de vulnerabilidade. A proposta recebeu apoio expressivo na Assembleia Legislativa. A moção pela recriação da pasta foi assinada por 50 deputados e deputadas estaduais.
Fonte: Guilherme Sperafico / Correio do Povo