
As políticas monetárias de Brasil e EUA permanecem em foco, uma semana após as decisões de taxa de juros dos bancos centrais das duas economias. Em um período fraco de indicadores, o destaque fica com a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre dos EUA e com o indicador de inflação preferido do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), assim como a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central nesta terça-feira, 23.
O período reserva também a divulgação da prévia de setembro do Índice de Gerentes de Compras (PMIs, na sigla em inglês). Na terça-feira, 23, serão conhecidas as primeiras leituras dos PMIs dos EUA, da zona do euro, do Japão e do Reino Unido. Já o documento do Copom vai explicar a decisão da última quarta-feira, 17, pela manutenção da taxa Selic em 15% ao ano. O comunicado foi praticamente similar ao da reunião anterior, diferenciando-se pela retirada do trecho referente à “interrupção no ciclo de alta da taxa Selic” e pela inclusão da expressão “período bastante prolongado” para o atual patamar de juros.
Apesar de a expectativa de inflação no horizonte relevante (2027) estar em queda — mas em ritmo lento —, do dólar em baixa e do risco de uma desaceleração da atividade maior do que o esperado, o comunicado reforça o prognóstico de mercado de trabalho aquecido e o risco de alta de inflação com a desancoragem das expectativas. A semana reserva duas oportunidades para o mercado avaliar se o Banco Central permanecerá sob esse diagnóstico. Além da ata, a segunda, na quinta, com o Relatório de Política Monetária e a entrevista coletiva de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, e Diogo Guillen, diretor de Política Econômica.
Antes, na segunda-feira, será divulgado o tradicional Boletim Focus, com o mercado observando o ritmo de redução da projeção do IPCA para 2027 em direção ao centro da meta de 3%. Na quinta-feira, o IBGE divulga a prévia da inflação de setembro — o IPCA-15. Na sexta-feira, o Banco Central apresenta os dados do setor ex-terno de agosto. O mercado monitora se o déficit em transações correntes continua sendo financiado pelo fluxo de Investimento Direto Produtivo.
EUA
A semana está repleta de discursos de autoridades do Fed, inclusive do chair Jerome Powell e do recém-empossado diretor Stephan Miran. Os investidores vão monitorar, além da confirmação de mais dois cortes de juros de 25 pontos-base neste ano, a avaliação de risco de cada membro da autoridade monetária americana, especialmente de Miran.
O diretor indicado por Trump foi o único a votar por um corte maior, de meio ponto percentual, na última quar-ta-feira. Além disso, o gráfico de pontos mostrou uma autoridade a prever mais dois cortes de 50 pontos-base em 2025. Como o gráfico não identifica de quem é a projeção, especula-se no mercado que a estimativa seja de Miran. Apesar de os riscos dos dois mandatos do Fed estarem elevados, o risco de aumento no desemprego pesa mais neste momento. No curto prazo, os dados do mercado de trabalho passam a ser mais sensíveis na precificação dos ativos.
Nos contratos futuros de médio e longo prazo, a precificação passa pelo discurso de Miran, que deve dar um esboço de como será a condução da política monetária pelo Fed após a saída de Powell, em maio do ano que vem. O sucessor será indicado por Trump e deve adotar uma política de juros com maior propensão a cortes, podendo levar a taxa ao intervalo de 2,5% a 2,75% em 2026 e de 2,25% a 2,5% em 2027 — bem abaixo da mediana das projeções dos membros do Fed, de 3,4% e 3,1%, respectivamente.
Na quinta-feira, haverá a leitura final do PIB do segundo trimestre dos EUA, que deve confirmar a reversão da retração do primeiro trimestre. A primeira prévia mostrou um crescimento de 3% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a segunda apontou uma expansão maior, de 3,3%.
É importante mencionar que a retração do primeiro trimestre ocorreu devido à alta das importações, antecipadas antes da implementação das tarifas de Trump. Já a queda no volume de importações é a principal responsá-vel pela forte alta do PIB entre abril e junho, o que esconde a desaceleração do consumo — principal motor da economia americana.
Na sexta-feira, será a vez do índice de preços PCE de agosto, o indicador de inflação preferido do Fed. O merca-do vai monitorar o impacto das tarifas de importação sobre o nível de preços do mês passado.