
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca neste domingo (21) para Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde realiza o discurso de abertura da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira (23).
O chefe do Executivo brasileiro deve expor em seu pronunciamento as prioridades da política externa do país, a defesa do multilateralismo, reforçado em vários encontros internacionais pelo petista, e uma prévia de debates sobre a crise climática, em preparação para a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças do Clima), que ocorre em Belém (PA), em novembro.
Durante a estadia, Lula deve ter diversas reuniões com outros líderes globais. Ele não descarta um possível encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A visita do petista à Nova Iorque acontece dias depois de ele publicar artigo em um jornal norte-americano defendendo a soberania do Brasil e reforçando a separação dos Poderes, em uma referência ao julgamento que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro na trama golpista.
“Tenho orgulho do Supremo Tribunal Federal por sua decisão histórica na quinta-feira, que salvaguarda nossas instituições e o Estado Democrático de Direito. Não se tratou de uma ‘caça às bruxas’. A decisão foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988, promulgada após duas décadas de luta contra uma ditadura militar”, escreveu Lula na ocasião.
O petista publicou o texto, uma espécie de “carta aberta”, direcionado ao presidente dos EUA, Donald Trump. Ao longo de 10 parágrafos, Lula refuta os argumentos do republicano para impor o tarifaço de 50% a produtos brasileiros comprados pelos norte-americanos.
Ao anunciar a medida, em 9 de julho, uma das justificativas de Trump para a taxa foi uma suposta “caça às bruxas” sofrida por Bolsonaro.
Palestina
Outro tema que deve ser abordado durante a visita do chefe de estado brasileiro aos Estados Unidos é a questão da Palestina. Lula participará em Nova Iorque da 2ª sessão da Confederação Internacional de Alto Nível para Resolução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, convocada pela França e Arábia Saudita.
De acordo com diretor do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty, ministro Marcelo Marotta Viegas, o Brasil vai defender que “uma paz sustentável só poderá ser alcançada na região se ambas as partes puderem negociar em igualdade de condições, o que inclui a capacidade estatal da Palestina”.
O governo brasileiro avalia o momento como uma oportunidade para que mais países reconheçam a Palestina como Estado. Além do Brasil, outros 147 países já a reconhecem. Israel e EUA, por outro lado, rejeitam a medida.
Defesa da Democracia
Também durante a visita de Estado, Lula vai participar da 2ª edição do evento Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo, na quarta-feira (24), com lideranças de cerca de 30 países. Além do Brasil, lideram a iniciativa os presidentes do Chile, Gabriel Boric, e da Espanha, Pedro Sánchez.
“Em um contexto de incerteza global e crescentes ameaças a valores democráticos, o encontro constituirá a ocasião para reafirmar compromissos compartilhados em torno da democracia, do multilateralismo e do Estado de Direito”, explicou o diplomata Marcelo Marotta Viegas.
A iniciativa, segundo Viegas, é uma estratégia para avançar em uma diplomacia ativa, “que promova a cooperação internacional contra a deterioração das instituições, a desinformação, o discurso de ódio e a desigualdade social”.
O primeiro encontro sobre a democracia ocorreu no Chile, em julho deste ano, com a participação dos presidentes do Brasil, da Espanha, Colômbia e do Uruguai. Na ocasião, foi publicada uma declaração conjunta dos países.
Crise climática
Ainda na quarta-feira (24), Lula participa de um evento sobre crise climática, que será co-presidido pelo Brasil e pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.
“O encontro deverá impulsionar a mobilização dos Estados-membros para a ação climática, incluindo a apresentação de novas contribuições nacionalmente determinadas, as NDCs, rumo à COP30”, afirmou o chefe da Divisão de Ação Climática, ministro Mário Gustavo Mottin.
As chamadas NDCs são os compromissos que cada país assume para reduzir a emissão de gases de efeito estufa que aquecem a Terra e são os principais intensificadores das mudanças climáticas. Até o momento, segundo o Itamaraty, apenas 29 países apresentaram suas NDCs.
O presidente Lula ainda participa, também em Nova York, de evento organizado pelo Brasil para ampliar o apoio para construção do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que deve ser lançado em Belém, na COP30, com objetivo de financiar a preservação das florestas.
Outra agenda de Lula é o encontro promovido pelo Centro Global de Adaptação, liderado pelo ex-presidente do Senegal, Macky Sall, para discutir mecanismos de adaptação à mudança climática.
Delegação brasileira
De acordo com o Itamaraty, a delegação brasileira também deve participar, a partir do dia 22 de setembro, da Semana do Clima de Nova York 2025. O encontro promove cerca de 500 eventos com lideranças de governos e da sociedade civil do planeta.
A Semana do Clima de Nova York ocorre desde 2009 de forma simultânea à Assembleia Geral da ONU e serve, na prática, como um evento preparatório da COP30.