
O Brasil mantém o segundo maior juro real do mundo (9,51%), sendo superado apenas pela Turquia com uma taxa real de 12,34%. Em terceiro, está a Rússia, com juros reais a 4,79%. Os dados são da plataforma MoneYou ao destacar que o Brasil ainda enfrenta incertezas inflacionárias, devido às preocupações com os gastos do governo e desafios da guerra tarifária de Donald Trump. No final da tarde de quarta-feira, 17, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou no final da tarde desta quarta-feira, 17, pela manutenção da taxa de juros em 15%, a mais alta desde julho de 2006, ou quase 20 anos. Está é a segunda reunião que os diretores do comitê escolhem pela manutenção do indicador.
O Copom justificou com instabilidades no ambiente externo e com inflação ainda acima da meta no Brasil. Em seu comunicado, o comitê reconhece que a atividade econômica esfriou, mas o mercado de trabalho continua dinâmico, transformando o cenário em inflacionário. A incerteza da política econômica nos EUA foi outro ponto destacado. “Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue apresentando, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação”, afirmou.
Na avaliação da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), embora juros altos sejam prejudiciais às atividades empresariais, o COPOM só poderá reduzir a Selic com uma âncora fiscal mais sólida. Conforme a entidade, a inflação dos serviços segue bem acima dos patamares saudáveis, como o grupo de alimentação fora do domicílio que, no escopo de medição do IBGE, permanece na casa dos 6% no acumulado dos 12 meses. A atividade econômica aponta para uma desaceleração moderada, que demanda cautela.
“Avançar rumo a uma trajetória de redução dos juros exige um compromisso firme com o equilíbrio fiscal, capaz de resgatar a confiança e criar condições para o crescimento da produção e do emprego, meta que o governo federal ainda não alcançou, avalia a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS). Segundo a entidade, a incerteza no ambiente externo, potencializada pelas tarifas comerciais impostas pelo governo dos Estados Unidos, é mais um elemento que ajuda a explicar a permanência da taxa Selic em 15%.
COMÉRCIO
Para o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, a manutenção da taxa de juros em 15,00% ao ano já era amplamente esperada. Com as expectativas de inflação em queda, ainda que distantes da meta, o aperto monetário torna-se ainda mais intenso. Apesar da desaceleração da atividade econômica, o mercado de trabalho segue resiliente, com taxas de desocupação muito baixas, enquanto os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos aumentam a percepção de incerteza no cenário atual, reforçando a postura cautelosa do Banco Central.
“Além disso, embora a inflação tenha registrado resultado negativo em agosto, a abertura dos dados do IPCA mostra que os serviços continuam preocupando, e a queda decorreu essencialmente de fatores pontuais. Como temos reiterado, é urgente promover uma redução estrutural da taxa de juros no país. Para tanto, o governo brasileiro precisa construir condições fiscais sustentáveis, por meio da racionalização e contenção dos gastos públicos. O ajuste das contas via aumento de receitas, como tem sido a prática recorrente do governo atual, já se encontra esgotado e insustentável a médio prazo”, diz.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Federal Reserve anunciou mais cedo a decisão de reduzir as taxas de juros do país em 0,25 ponto percentual para a faixa de 4% a 4,25% ao ano, em linha com as expectativas do mercado financeiro, sob dúvidas a respeito do impacto do tarifaço na inflação. O único voto contrário foi de Stephen Miran, indicado pelo presidente Donald Trump, que defendeu reduzir os juros em 0,5 ponto, para o intervalo de 3,75% a 4% ao ano. Esse foi o primeiro corte de juros nos EUA em nove meses. A última redução havia ocorrido em 18 de dezembro, quando a taxa passou a ser de 4,25% a 4,50% ao ano. Desde então, foram cinco reuniões consecutivas sem alteração.