
A Superquarta desta semana carrega um peso inédito: pela primeira vez em 2025, o Federal Reserve deve iniciar um ciclo de cortes de juros, enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tende a manter a Selic em 15%. Essa divergência adiciona volatilidade ao câmbio e às expectativas de fluxo de capitais, tornando o Brasil mais uma vez um destino estratégico para investidores globais. No plano doméstico, a taxa básica em patamar elevado tem dupla função: segurar as expectativas de inflação e manter a atratividade do real.
Para Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, o problema não é a resiliência do mercado de trabalho, mas sim a falta de tração no crédito corporativo. “Com a Selic em 15%, investidores seguem seletivos, o que restringe novas securitizações e limita a capacidade de transformar dinamismo conjuntural em projetos estruturados.” Essa seletividade explica por que, mesmo com indicadores robustos de emprego, a expansão de crédito não acompanha o ritmo da atividade.
FLUXO DE CAPITAIS
A manutenção dos juros em 15% transmite previsibilidade e ajuda a sustentar o fluxo de capitais, ainda que imponha desafios internos. Essa combinação, cautela doméstica e movimento externo, faz desta Superquarta um divisor de águas, em que as escolhas de política monetária definem tanto a confiança do mercado quanto o espaço para novos investimentos produtivos. Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, aponta que o Copom olha também para o exterior. O corte do Fed favorece a entrada de recursos em emergentes, mas não afasta a necessidade de firmeza no Brasil.
“O cenário pede prudência: inflação controlada, porém sensível, e tarifaço americano no radar. A manutenção da Selic garante previsibilidade e reforça a busca por crédito estruturado e alternativas que entreguem retorno acima da média”. Na visão de Pedro Ros, CEO da Referência Capital, o recado do BC será de solidez institucional. “Selic estável em 15% é sinal de credibilidade e equilíbrio. A mensagem é de que o Brasil continua atrativo e com condições de financiar o próximo ciclo de crescimento”, diz. Entre cortes lá fora e estabilidade aqui, a Superquarta traduz o desafio de sustentar confiança e preparar terreno para novos investimentos.
Para investidores, o que diferencia esta Superquarta das anteriores é a possibilidade de reposicionamento global: juros em queda nos EUA podem redirecionar fluxos, enquanto a Selic elevada mantém o prêmio do Brasil no radar. O balanço dessas forças explica por que a decisão de amanhã é vista não apenas como ajuste técnico, mas como um divisor de águas na estratégia de alocação para os próximos meses.