
A Polícia Civil procura a cabeça da mulher que foi esquartejada e que teve o corpo deixado em uma mala na rodoviária de Porto Alegre. Internamente, há nas equipes hesitação quanto às buscas. Conforme antecipado na última sexta-feira, a vítima foi identificada como Brasilia Costa, de 65 anos.
O publicitário Ricardo Jardim, de 66 anos, é apontado como suspeito. Ele foi transferido à Penitenciária Estadual de Charqueadas II, nesse domingo, após ficar por três dias no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), onde passou por audiência de custódia.
A incerteza sobre as buscas ocorre porque, de maneira informal, o criminoso teria dito aos agentes que descartou a cabeça em um lixo orgânico no entorno do Gasômetro. O receio deles é que um caminhão de coleta tenha recolhido o entulho e que, por isso, o membro possa ter sido triturado junto aos resíduos. O destino desse conteúdo é um aterro em Minas do Leão, na Região Carbonífera.
Pernas foram jogadas em arroio no bairro Cristal
Duas pernas de mulher foram encontradas ao longo desse final de semana, na zona Sul. O primeiro caso aconteceu por volta das 10h de sábado, na orla do bairro Ipanema. Outra ocorrência foi registrada pelas 14h30min de domingo, quando um pescador encontrou os restos mortais na orla do Guaíba.
Ainda não há DNA de nenhuma dessas partes, mas é consenso entre as autoridades que as pernas podem ser da mulher que foi esquartejada. Isso porque o investigado também teria dito aos policiais que arremessou esses membros em um arroio no bairro Cristal, que deságua no Guaíba.
Vale destacar ainda que, no caso em Ipanema, o tipo de corte da perna era semelhante aos outros infligidos na vítima. O mesmo também é válido à perna encontrada no domingo, com o agravante que essa estava envolta por sacolas e pedaços de roupas similares aos restos mortais localizados na rodoviária, no primeiro dia do mês, e no bairro Santo Antônio, em agosto.
Quem é a vítima
Brasilia Costa, de 65 anos, trabalhava como manicure e cabelereira. Ela era natural de Arroio Grande, no Sul do Estado. O irmão dela é sargento da Brigada Militar, da reserva.
A mulher era vizinha do criminoso, que residia em uma pousada no bairro São Geraldo. Os dois mantinham relacionamento amoroso há seis meses.
Segundo a investigação, após o crime, o homem utilizou o celular da namorada para mandar mensagens aos parentes dela e fingia ser a mulher. Por isso, o desaparecimento não foi registrado.
Motivação financeira
O delegado interino da 2ª DHPP, André Freitas, afirmou que o preso estava foragido desde abril do ano passado. Nesse intervalo de tempo, era sustentado com a ajuda da namorada, apesar de ter formação como publicitário. A suspeita é que o crime tenha sido cometido por motivação financeira.
“Acreditamos que o criminoso agiu com motivações financeiras. Ele estava foragido, ou seja, em uma situação complicada para ganhar dinheiro. Sabemos que a mulher fez transferência de valores ao companheiro durante todo o relacionamento. Além disso, depois do crime, o homem ainda realizou saques bancários com os cartões da vítima”, destacou Freitas.
Filmado na rodoviária
De acordo com a investigação, após deixar o corpo na rodoviária, onde foi gravado por câmeras de segurança, o criminoso se mudou para outra pousada, no bairro São João. Acabou sendo preso ali, no dia 4 de setembro.
“Foi o crime mais difícil que já investiguei. Analisamos mais de 34 câmeras de segurança até rastrear o suspeito. Ele se expôs de propósito ao ir na rodoviária. Além disso, fez denúncias falsas. Tudo para afrontar as autoridades”, disse o diretor do Departamento de Homicídios (DHPP), delegado Mario Souza.
Ocorre que, em determinado momento, o criminoso adquiriu bebidas alcoólicas em um comércio. Ali, ele tirou a máscara e teve o rosto captado por uma câmera de monitoramento.
“Tínhamos o rosto dele, mas não sabíamos a identidade. O nome foi confirmado por pessoas que o conheciam na pousada”, destacou Souza.
Condenação por morte de mãe
O mesmo preso foi condenado, em 2018, a 28 anos de reclusão por matar e concretar a própria mãe, em 2015, no bairro Mont’Serrat. Conforme o Ministério Público, a motivação desse crime foi, também, econômica.
“A vítima usufruía do seguro de vida do falecido marido, no valor de R$ 400 mil, do qual o filho se apossou após o crime. Ela foi morta com 13 facadas nas costas”, destacou o MP, na época dos fatos.
No julgamento, o réu confessou que ocultou o cadáver, mas negou a morte. Segundo ele, a mãe se suicidou. Jardim foi considerado culpado por três crimes: homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e meio cruel), ocultação de cadáver e posse de arma. Ele recebeu progressão de pena ao regime semiaberto em 2024. Depois, fugiu.