Uma perna humana foi encontrada na manhã deste sábado na orla do bairro Ipanema, na zona Sul de Porto Alegre. Os restos mortais são de uma mulher. Não é descartado que a perna seja de Brasilia Costa, de 65 anos, vítima de esquartejamento que teve o corpo deixado em uma mala na rodoviária da Capital.
De acordo com a Brigada Militar, a ocorrência foi registrada por volta das 10h. O membro estava na areia, próximo da água, sendo encontrado por um trabalhador do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).
A perna foi cortada pouco abaixo da linha do joelho da vítima. O pé ainda estava intacto, com dedos e unhas, sendo recolhido por volta das 10h50min.
Além de guarnições do 1º BPM, equipes da Polícia Civil e do Instituto-Geral de Perícias (IGP) também atenderam a ocorrência. É consenso entre estas que o membro possa ser da mesma mulher que foi esquartejada e teve o corpo deixado em uma mala na rodoviária de Porto Alegre.
Isso porque o tipo de corte é similar aos outros restos mortais encontrados no bairro Santo Antônio, na zona Leste, no dia 13 de agosto. Além disso, os investigadores já trabalhavam com a possibilidade de partes do corpo terem sido descartadas na zona Sul.
O delegado Leandro Bodoia, plantonista do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), reconhece que há semelhanças com o caso da mulher esquartejada. No entanto, mais ponderado, ele também reforça que a confirmação da hipótese só ocorrerá através de laudo pericial.
“De fato, há similaridades entre as situações. Porém, é importante ressaltar que, a respeito dessa perna, é preciso uma análise técnica da perícia para confirmar se é, ou não, da mesma pessoa que foi esquartejada”, avaliou o delegado Bodoia.
Quem é a vítima de esquartejamento
Foi identificada como Brasilia Costa, de 65 anos, a vítima de esquartejamento que teve parte do corpo deixado em uma mala na rodoviária de Porto Alegre. O companheiro dela, o publicitário Ricardo Jardim, de 66 anos, é apontado como suspeito. A prisão dele foi anunciada na sexta-feira, em coletiva da Polícia Civil.
A mulher trabalhava como manicure e era natural de Arroio Grande. O irmão dela é sargento da Brigada Militar, da reserva. Ela era vizinha do criminoso, que residia em uma pousada no bairro São Geraldo.
Os dois mantinham um relacionamento amoroso há seis meses. Segundo a investigação, após o crime, o homem utilizou o celular da namorada para mandar mensagens aos parentes dela, fingindo ser a mulher. Por isso, o desaparecimento da vítima não foi registrado.
A vítima morreu no dia 9 de agosto. Quatro dias depois, teve pernas e braços deixados em um saco de lixo no bairro Santo Antônio, na zona Leste. Em 20 de agosto, a mala com o tronco foi deixada no guarda-volumes da rodoviária, em nome e endereço de uma pessoa que trabalha em um escritório de contabilidade, em Canoas, mas que nada tem a ver com o crime.
Após deixar o corpo na rodoviária, se mudou para outra pousada, no bairro São João, onde foi preso. “O investigado disse que a mulher morreu por mal súbito e que ficou com receio de ser incriminado. Por isso, diz ele, resolveu esquartejá-la”, afirmou o delegado interino da 2ª Delegacia de Homicídios, André Freitas.
Motivação financeira
O delegado interino da 2ª DHPP afirmou que o preso estava foragido desde o início do ano. Nesse intervalo de tempo, era sustentado com a ajuda da namorada, apesar de ter formação como publicitário. A suspeita é que o crime tenha sido cometido por motivação financeira.
“Acreditamos que o criminoso agiu com motivações financeiras. Ele estava foragido, ou seja, em uma situação complicada para ganhar dinheiro. Sabemos que a mulher fez transferência de valores ao companheiro durante todo o relacionamento. Além disso, depois do crime, o homem ainda realizou saques bancários com os cartões da vítima”, destacou o delegado André Freitas.
Condenação por morte de mãe
O mesmo preso foi condenado, em 2018, a 28 anos de reclusão por matar e concretar a própria mãe, em 2015, no bairro Mont’Serrat. Conforme o Ministério Público, a motivação desse crime foi, também, econômica.
“A vítima usufruía do seguro de vida do falecido marido, no valor de R$ 400 mil, do qual o filho se apossou após o crime. Ela foi morta com 13 facadas nas costas”, destacou o MP, na época dos fatos.
No julgamento, o réu confessou que ocultou o cadáver, mas negou a morte. Segundo ele, a mãe se suicidou. Jardim foi considerado culpado por três crimes: homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e meio cruel), ocultação de cadáver e posse de arma. No início deste ano, ele fugiu do regime semiaberto.
Possíveis outras vítimas
O publicitário utilizava tecnologia para atrair mulheres. Segundo a Polícia Civil, ele administrava perfis falsos nas redes sociais e, por meio de Inteligência Artificial (IA), se passava por jovens na faixa de 20 anos, com a intenção de atrair mulheres. Também fingia ser praticante de esportes
“Ele era bastante ativo nas redes sociais. Tinha habilidade com tecnologias e utilizava ferramentas de Inteligência Artificial em seus perfis e, assim, atraía mulheres”, disse o delegado André Freitas.
Outra investigação busca esclarecer se o preso fez outras vítimas por meio da internet. “Ele tem traços de personalidade de assassino em série”, pontuou o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.
Fonte: Marcel Horowitz / Correio do Povo