
O tradicional desfile dos Grandes Campeões da Expointer foi apenas o coadjuvante da solenidade de abertura oficial da 48ª edição do evento, realizado no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Do início ao fim, os protestos e fortes vaias a cada discurso marcaram a cerimônia, mesmo com anúncios feitos, momentos antes, pelo presidente Lula através das redes sociais. Os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, representaram o governo federal.
Desde antes do início da solenidade, os ânimos acalorados ficaram evidentes. Em atendimento à imprensa, o governador Eduardo Leite criticou o fato de o governo federal enviar os ministros já com anúncios prontos, sem, segundo ele, a possibilidade de que o agronegócio gaúcho continuasse negociando melhores soluções para o endividamento. “Espero que haja uma evolução em relação ao que já tinha sido colocado na mesa e, se for insuficiente, nós vamos continuar lutando”, disse.
O deputado federal Paulo Pimenta também concedeu entrevista, e rebateu com críticas contundentes a Leite, a quem chamou de “desagregador”. “O governador, na realidade, hoje é uma figura que não ajuda em nada. Enquanto qualquer governador de qualquer estado senta na mesa para construir soluções para os problemas dos seus estados, o nosso tem uma postura permanente de disputa política, preocupado em ser candidato, e não estabelece diálogo com ninguém”, afirmou.
Em clima de “velório”, a cerimônia começou com um discurso forte do secretário da Agricultura, Edivilson Brum lembrando de agricultores que, por conta do endividamento, tiraram a própria vida. Ele pediu um minuto de silêncio em homenagem e depois falou de políticas públicas realizadas pelo Estado, em prol do agronegócio.
Após a fala de Brum, o secretário do Desenvolvimento Rural, Vilson Covatti, e representantes de diversas entidades também discursaram, enquanto o público entoava gritos como “fala, Leite”, pedindo a manifestação do governador, e “cadê a solução”, direcionadas aos ministros presentes.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, deu um dos discursos mais aguardados, representando os anseios dos agricultores. Ele lembrou que também é produtor e, portanto, também é afetado pelo endividamento que deixa o setor com temor de investimentos na próxima safra, mas considerou um avanço a medida anunciada pelo governo. “Esta medida protetiva talvez seja insuficiente, mas ela já pode começar a funcionar a partir de amanhã e é isso que nós temos que fazer. Vamos pegar o que vem porque, sem dúvida nenhuma, é melhor do que nada, mas vamos seguir lutando”, ressaltou.
A partir de então, o clamor pelas falas de Leite e dos ministros aumentou. O primeiro a falar foi Teixeira, que foi muito vaiado do início ao fim de seu discurso, mas tratou a manifestação como legítima em um país democrático, enquanto era chamado de “enrolão”, por deixar anúncios para a parte final, quando antecipou as medidas que seriam ditas por Fávaro. “O presidente Lula anuncia a destinação de R$ 12 bilhões para a mudança do perfil da dívida dos agricultores do Rio Grande do Sul. Isso não vai atender a todos os agricultores que poderão tomar esses recursos nos bancos, mas vai atender a 95% dos agricultores familiares, a 95% dos Pronamp e a 87% dos grandes agricultores do Rio Grande do Sul”, disse.
Já Fávaro, também vaiado, fez uma manifestação mais breve. Afirmou ter respeito pelas famílias de produtores que tiraram a vida por conta das dívidas e disse respeitar as manifestações. Também destacou que o Estado já foi o maior produtor de grãos do Brasil, mas disse que “as coisas mudaram”.
O ministro falou, também, sobre a medida provisória anunciada pelo governo federal. “Os R$ 12 bilhões serão muito importantes para a continuidade do setor. É importante dizer que a medida provisória também tem um estímulo de mais R$ 20 bilhões ao sistema financeiro e, gradativamente, nós vamos poder dar a todos”, comentou.
Último a discursar, Leite também enfrentou vaias e manifestações contrárias, que ele tratou como uma ação política. “Embora haja manifestação legítima, nós estamos vendo um movimento de tentativa de captura política que não colabora com a luta justa que deve ser destacada em relação aos nossos produtores”, afirmou.
Ele também falou sobre os anúncios do governo federal, que tratou como um passo importante, mas reforçou o papel do Estado de continuar buscando que todos sejam beneficiados. “ A dor dos nossos produtores é real, sentida e percebida nos desafios que eles têm para financiar a sua produção agrícola. E por isso que nós clamamos por ajuda da União, pois não está claro que os R$ 12 bilhões sejam suficientes para atender a todas as necessidades”, concluiu.
Fonte: Guilherme Sperafico / Correio do Povo