
Uma combinação de inovação, sustentabilidade e compromisso social está transformando o setor de plásticos no Rio Grande do Sul. Com o objetivo de impulsionar a produção sustentável e apoiar a retomada econômica em regiões afetadas pelas enchentes de maio de 2024, o Instituto Senai de Inovação em Engenharia de Polímeros, em São Leopoldo, desenvolveu uma solução tecnológica 100% reciclável para a Geplast, empresa de pequeno porte, em Farroupilha.
O projeto, batizado de Ecotubos, resultou na criação de um composto termoplástico produzido a partir de resíduos plásticos pós-consumo, utilizado na fabricação de tubos para drenagem pluvial e sistemas de irrigação. A inovação permite a utilização de até 100% de matéria-prima reciclada, reduzindo cerca de 30% dos custos com insumos. Os tubos também são mais leves do que os modelos convencionais de concreto, o que facilita o transporte e a instalação.
A atuação do Senai foi essencial em todas as etapas: da formulação e caracterização dos materiais à simulação de desempenho e validação dos protótipos. “Um dos principais desafios foi a variabilidade da matéria-prima reciclada. Trabalhamos para garantir desempenho técnico, viabilidade econômica e sustentabilidade, pilares fundamentais da inovação aplicada à indústria”, explica o gerente de operações do Instituto, Jordão Gheller.
Além dos avanços tecnológicos, a iniciativa gerou impacto direto na trajetória da Geplast. Em dois anos, a empresa aumentou sua produção em mais de 200%, iniciou exportações e ampliou em mais de 50% seu quadro de colaboradores.
INOVAÇÃO QUE TRANSFORMA REALIDADES
Um dos diferenciais do projeto foi a escolha por adquirir matéria-prima reciclada de empresas situadas em cidades fortemente afetadas pelas enchentes, como Roca Sales, Alvorada, Frederico Westphalen e Lajeado. O investimento ultrapassou R$ 2 milhões e beneficiou recicladoras de pequeno e médio portes, além de associações de catadores, colaborando diretamente para a reconstrução econômica dessas comunidades. “Foi uma escolha humana e estratégica”, afirma Érico Razzera, sócio-diretor da Geplast. “Identificamos fornecedores atingidos pelas cheias e priorizamos seus pedidos, garantindo renda e continuidade das atividades. Isso fortaleceu toda a cadeia circular da região sul”, completa Razzera.
Do ponto de vista ambiental, o projeto substitui completamente o uso de polímeros virgens e contribui para a redução da emissão de carbono. A meta da empresa é escalar o uso de plástico reciclado para até 1 milhão de toneladas por ano até 2026, reforçando o compromisso com a economia circular.
A tecnologia dos Ecotubos foi aplicada em diversas obras de drenagem no estado, inclusive no dique da própria FIERGS, ajudando a conter alagamentos em áreas críticas após as enchentes. Para os envolvidos no projeto, esse momento foi marcante. “Ver a nossa tecnologia sendo usada para proteger vidas e estruturas foi emocionante. Foi a confirmação de que inovação e responsabilidade social podem e devem caminhar juntas”, compartilha Razzera.
“Nossa atuação busca aproximar a pesquisa aplicada do setor produtivo, promovendo soluções acessíveis e sustentáveis que transformam realidades e geram impactos positivos para toda a sociedade”, conclui Gheller.