A América Latina se destaca por um fenômeno peculiar: a convergência entre o aplicativo de mensagens mais popular do mundo e o comércio tradicional de bairro. O WhatsApp, com mais de dois bilhões de usuários globalmente em 2024, tornou-se não apenas um canal de comunicação, mas também um canal de vendas vital para milhões de pequenos lojistas em países como Brasil e México, dois dos cinco maiores mercados do app no mundo.
É o que revela a pesquisa “Transforming Payments: Digital Solutions for Traditional Trade in the CPG Industry”, que analisou o cenário de 12 países – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Honduras, Jamaica, México, Peru e Estados Unidos, e revelou que a digitalização do chamado comércio tradicional, que inclui varejo de bairro, quiosques e lojas de conveniência, está no centro dessa transformação. Nas Américas, 42% das vendas de empresas de bens de consumo embalados (CPG, na sigla em inglês) ainda ocorrem por meio desses canais. São cerca de 12,4 milhões de pequenos varejistas ativos na região, que movimentam um mercado estimado em US$ 448,4 bilhões, sendo US$ 293,4 bilhões apenas em transações B2B entre lojistas e distribuidores.
O Brasil possui mais de 2,1 milhões de pequenos varejistas (entre mercearias, lojas de bairro, bancas e vendedores independentes), porém apenas cerca de 50% desses estabelecimentos aceitam pagamentos com cartão de crédito ou outros meios digitais. Os dados são do novo estudo da Mastercard, realizado pela consultoria PCMI (Payments and Commerce Market Intelligence).
INFORMALIDADE
A pesquisa indica que a informalidade, a dificuldade de acesso ao crédito e a limitação de crescimento desses pequenos negócios são os principais fatores para a falta de digitalização. Muitos desses empreendedores atuam sem registro formal, o que os afasta de linhas de financiamento tradicionais e dos serviços financeiros mais estruturados, dificultando investimentos em tecnologia ou modernização de processos.
Embora o acesso a contas bancárias tenha aumentado no país, a digitalização dos pagamentos ainda avança de forma desigual, uma vez que se concentra em regiões mais urbanizadas, deixando áreas periféricas e rurais com menor conectividade e suporte. Isso limita não apenas os lojistas, que ficam restritos a práticas manuais pouco eficientes, mas todo o ecossistema de distribuição e consumo, prejudicando também as grandes indústrias, que enfrentam barreiras para expandir sua presença, prever demandas com precisão e criar relações comerciais mais estruturadas com esse canal.
Além de mapear oportunidades, a pesquisa aponta os principais entraves para a digitalização no país, como baixa conectividade em áreas remotas, pouca familiaridade com ferramentas digitais e percepção negativa sobre o sistema bancário tradicional. Ainda assim, o relatório traz recomendações para superar esses desafios, como o investimento em soluções escaláveis, capacitação de lojistas e fortalecimento de parcerias entre CPGs, fintechs e distribuidores.
Esse movimento tem sido liderado por CPGs em parceria com plataformas tecnológicas como a Yalo, uma startup mexicana especializada em plataformas inteligentes de vendas. A Yalo oferece um ecossistema digital no qual agentes de inteligência artificial interagem com lojistas diretamente pelo WhatsApp e outros aplicativos conversacionais, facilitando pedidos, atendimento, programas de fidelidade e até recomendações personalizadas de produtos baseadas utilizando inteligência artificial.