Abril é, historicamente, o mês dos reajustes nos preços de medicamentos. O que pesa no bolso do consumidor final também gera forte impacto sobre os hospitais, que precisam lidar com aumentos concentrados em um curto período e, muitas vezes, acima da média inflacionária. O Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H) de abril desse ano, elaborado pela Fipe com base em dados transacionais da empresa de tecnologia Bionexo, registrou alta de 4,18% no mês, movimento puxado por fortes altas em grupos como imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (+18,89%).
O salto nos preços hospitalares contrasta com a inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, que foi de 0,43% no mesmo período. Segundo o IBGE, o grupo saúde e cuidados pessoais liderou a alta entre os segmentos analisados (+1,18%), influenciado pela elevação nos preços de produtos farmacêuticos (+2,32%), com destaque para anti-inflamatórios e antirreumáticos (+3,63%), anti-infecciosos e antibióticos (+3,50%) e psicotrópicos e anorexígenos (+3,08%).
A alta ocorre no mês em que entraram em vigor os reajustes anuais de medicamentos autorizados pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que estabeleceram os seguintes níveis máximos, aplicáveis a diferentes grupos de medicamentos de acordo com o nível de concorrência/grau de concentração de mercado: a) nível 1: até 5,06% para medicamentos com maior concorrência; b) nível 2: até 3,83% para medicamentos que enfrentam média concorrência no mercado; c) nível 3: até 2,60% para medicamentos de pouca ou nenhuma concorrência de mercado.
INDICADOR
De acordo com o informe oficial do Governo Federal, o índice de correção médio proposto (3,83%) é o menor para esse nível desde 2018 (quando foi de 2,47%). “O índice revela uma pressão significativa sobre os custos hospitalares, que tende a se acentuar diante de reajustes autorizados e oscilações cambiais. Esse movimento preocupa não só hospitais, mas todo o ecossistema de saúde, que já opera com margens apertadas e demanda crescente por serviços”, afirma Rafael Barbosa, CEO da Bionexo. “É fundamental que as instituições invistam em inteligência de compras e em ferramentas que aumentem a previsibilidade e o controle de gastos.”
O reajuste não significa aumento automático dos preços. De acordo com o Governo Federal, para os consumidores, a definição anual de um teto para o preço dos medicamentos busca garantir o acesso a eles, já que a lei impede aumentos excessivos e protege o poder aquisitivo da população. Já para o setor farmacêutico, o mecanismo permite compensar impactos de custos, o que é essencial para a continuidade do fornecimento de medicamentos.
“O IPM-H registrou uma alta importante de 4,18% em abril, acelerando de forma significativa em relação ao mês anterior, que teve uma variação de apenas 0,30%”, afirma Bruno Oliva, economista e pesquisador da Fipe. Segundo ele, o comportamento dos preços em abril impulsionou o acumulado do IPM-H para 5,38% no ano e 5,03% nos últimos 12 meses. “Esses números mostram que a inflação hospitalar avança de forma mais intensa que a inflação geral da economia, o que exige atenção do setor de saúde para o impacto nos custos e no planejamento orçamentário”, explica.
Entre os grupos terapêuticos que compõem a cesta de cálculo do IPM-H, a maioria apresentou forte alta nos preços, especialmente imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (+18,89%). Em seguida, destacaram-se as variações mensais em: preparados hormonais (+3,29%); aparelho geniturinário (+2,89%); aparelho respiratório (+2,31%); agentes antineoplásicos (+2,29%); órgãos sensitivos (+0,83%); sistema musculoesquelético (+0,72%); aparelho cardiovascular (+0,43%). Em contrapartida, quatro grupos terapêuticos registraram redução de preço no mês: aparelho digestivo e metabolismo (-3,04%); sistema nervoso (-0,71%); sangue e órgãos hematopoiéticos (-0,25%); e anti-infecciosos gerais para uso sistêmico (-0,23%).
Comparativamente, nos últimos 12 meses encerrados em abril, a variação positiva do IPM-H (+5,03%) pode ser atribuída ao comportamento positivo dos preços dos seguintes grupos: imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (+26,94%); aparelho digestivo e metabolismo (+14,44%); aparelho geniturinário (+3,25%); agentes antineoplásicos (+2,23%); aparelho respiratório (+2,07%); preparados hormonais (+2,06%); e anti-infecciosos gerais para uso sistêmico (+1,73%). Em contraponto, os preços acumularam variações negativas nos demais grupos: sistema musculoesquelético (-9,43%); aparelho cardiovascular (-5,09%); sangue e órgãos hematopoiéticos (-3,82%); sistema nervoso (-2,52%); órgãos sensitivos (-2,11%). Considerando a série histórica do IPM-H até abril de 2025, os preços de medicamentos para hospitais registraram uma elevação acumulada de 54,8%.