Desafio de Eduardo Leite é demonstrar peso político

Desafio de Eduardo Leite é demonstrar peso político | Foto: Mauricio Tonetto / Secom

Marcado para a segunda quinzena de maio no RS, o ato comemorativo da filiação do governador Eduardo Leite ao PSD está sendo apontado por aliados e adversários do chefe do Executivo como um termômetro do peso que sua troca de partido terá sobre o cenário eleitoral no Estado. No PSD, sigla ainda pequena no RS, mas que é uma das grandes do Congresso, e que mostrou sua força nas eleições municipais do ano passado, as expectativas são de que Leite vai alavancar uma migração em massa de tucanos para seu novo partido e encabeçar uma coalizão ampla para 2026, independente do cargo que disputar.

Tão logo retorne dos Estados Unidos, o governador assumirá a presidência da legenda no Estado. “Éramos um partido pequeno no RS, mas a entrada do governador muda isso. Ele é o nome mais promissor no Estado, tem uma base própria, o momento é de novos rumos, e o PSD é um partido que tem futuro”, elenca o ex-prefeito de Canoas, Jairo Jorge. Na configuração atual, Jorge é um dos poucos expoentes do PSD gaúcho, que conta ainda com o deputado federal Danrlei de Deus, o ex-prefeito de Passo Fundo, Luciano Azevedo, e a ex-senadora Ana Amélia Lemos.

“Percebo uma migração para seguir o Eduardo. O primeiro passo é quem virá com ele. Quanto mais arregimentar, melhor. O Kassab (Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD), teve a delicadeza de ligar para as lideranças do PSD gaúcho, que possam de alguma maneira agregar (para informar sobre as tratativas com o governador antes da filiação na última sexta-feira). Ele, Kassab, está trabalhando muito para ampliar o Senado. Porque o empoderamento que alcançou o Congresso deu a deputados, e especialmente a senadores, uma relevância político institucional igual e as vezes até maior que a de governadores”, assegura Ana Amélia.

A disputa por uma das duas vagas ao Senado é uma das alternativas postas à mesa para Leite nas eleições de 2026. E tanto o governador como aliados admitem a possibilidade. A primeira escolha, contudo, é a que ele vem anunciando há meses: de que é pré-candidato à sucessão do presidente Lula (PT) no próximo ano.

A alternativa da Presidência, porém, depende não apenas do desempenho de Leite nos próximos meses nas costuras partidárias do RS. Inclui ainda sua capacidade de inserção nacional. E os planos do próprio Kassab que, a 17 meses da eleição, enfileirou três pré-candidatos à sucessão de Lula. Antes do governador gaúcho, já havia apresentado para a vaga o governador do Paraná, Ratinho Júnior, filiado ao PSD desde 2016. Além dele, Kassab, que é secretário de Governo e Relações Institucionais do estado de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), assegura que apoiará Tarcísio caso este decida tentar o Planalto.

Também são consideradas as opções de Ratinho Júnior disputar o Senado e Tarcísio concorrer à reeleição, com Kassab de vice na chapa. Já Leite, entre a corrida pela presidência e a do Senado, aceita também tratativas para ser vice de outro candidato ao Planalto.

No RS, dirigentes do PT e do PL, que cristalizam a oposição à esquerda e à direita, não fazem qualquer movimento para atrapalhar as tentativas do governador de ingressar na corrida presidencial. Há quem admita, inclusive, que a definição seria vantajosa tanto para as articulações petistas como as da legenda de Jair Bolsonaro. Mas, na bolsa de apostas de ambos os partidos, hoje ganham os que marcam que o chefe do Executivo vai ao Senado.

Cenário conflagrado

Apesar da empolgação de parte dos articuladores do governador Eduardo Leite e de integrantes de seu novo partido, o PSD, as negociações para as eleições de 2026 no campo da centro-direita no RS começam em um cenário conflagrado. Entre legendas que hoje integram a base do chefe do Executivo, há divisões públicas dentro do PP e do União Brasil.

O MDB, partido do vice-governador e pré-candidato à sucessão de Leite, Gabriel Souza, entabula nacionalmente conversas com o Republicanos, que também integra a base de Leite, para formar uma federação e fazer frente àquela fechada entre o PP e o União Brasil, a União Progressista. No RS, uma ala do MDB não esconde sua aproximação com o PL, legenda com a qual também flerta o Republicanos.

Nacionalmente, todos – MDB, União Brasil e PP – têm ministérios no governo Lula. Mesmo caso do PSD, que está à frente de três pastas. Na sexta-feira, durante sua filiação ao PSD em São Paulo, tanto Leite como Kassab minimizaram a participação da sigla no governo federal.

No RS, o PP se divide entre os que querem permanecer com Leite, indicando o vice na chapa de Gabriel, os que desejam se unir ao PL, e os que ventilam uma candidatura própria. No União Brasil, insatisfeito regionalmente com a federação com o PP, diferentes lideranças calculam suas chances nas próximas eleições e, a partir das contas, avaliam migrar para outro partido.

Nas siglas do centro para a esquerda na base do governador também há divergências. No PDT, regionalmente, existem três alas. Os que sonham com a pré-candidatura da ex-deputada Juliana Brizola ao governo, os que querem seguir com Leite, e os que não descartaram ainda uma aproximação com o PT. Nacionalmente, o PDT continua com o ministério da Previdência, mesmo após a saída de Carlos Lupi. E anunciou que segue na base de Lula no Senado, apesar de ter saído dela na Câmara.

O PSB, legenda do vice-presidente Geraldo Alckmin, e que é base tanto no governo do Estado como no do país, trava uma guerra silenciosa em solo gaúcho, que opõe o grupo do ex-deputado Beto Albuquerque e atuais dirigentes.

No chamado centro, é incerto o comportamento do agora ex-partido de Leite, o PSDB, que anunciou uma federação com o Podemos. O governador atua para manter a influência entre tucanos, mesmo que a sigla fique esfacelada. Mas o Podemos também se movimenta para aumentar sua influência sobre o que sobrar do partido.

A troca de Eduardo Leite

Na última sexta-feira, 9 de maio, o governador Eduardo Leite trocou seu antigo partido, o PSDB, pelo PSD de Gilberto Kassab. A ficha de filiação foi assinada em São Paulo. Veja a diferença entre as estruturas das duas legendas.

No Senado, individualmente, o PSD divide com o PL o posto de maior bancada. Cada um dos partidos possui 14 senadores. O PSDB tem três senadores.

Na Câmara dos Deputados, o PSD tem 45 parlamentares, sendo um do RS. O PSDB tem 13, dois do RS.

Entre janeiro e abril de 2025 o PSD recebeu R$ 29,8 milhões do Fundo Partidário. O PSDB recebeu R$ 9,7 milhões.

No ano passado, quando foram realizadas eleições municipais, ao PSD foram destinados R$ 420,9 milhões (8,48%) do Fundo Eleitoral. O PSDB ficou com R$ 147,9 milhões (2,98%).

Nas eleições de 2024 o PSD foi o partido que conquistou o maior número de prefeituras no país: 891. O PSDB ficou com 276. No RS o PSD comanda 12 cidades e o PSDB 35.

Na Assembleia Legislativa gaúcha o PSD tem uma cadeira. O PSDB tem cinco.