O presidente dos EUA está diminuindo a intensidade de sua retórica agressiva da guerra comercial, além de afirmar que seu governo está em conversas com os representantes chineses, o que Pequim nega. Este freio de arrumação contribuiu para a diminuição da volatilidade dos mercados financeiros na última semana, com papel fundamental do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que apontou tanto a insustentabilidade da relação atual com a China, em reunião privada no JPMorgan, como a necessidade de um acordo, embora apontando que o primeiro passo para o consenso tenha que ser dado pelos chineses.
Por isso, ainda prepondera a incerteza em relação às tarifas, mas com projeções menos catastrofistas. “Junto com o recuo discursivo dos EUA em relação às tarifas, a novidade da semana é a menor preocupação dos economistas e de membros do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) com uma recessão. A desaceleração econômica virá com a pressão nos preços, por isso a cautela e a paciência serem o fio condutor dos discursos de autoridades do banco central americano, pois o grande desafio da autoridade monetária é ancorar a expectativa de que essa alta na inflação será temporária”, diz Leandro Manzoni, economia da plataforma Investing.com.
Segundo ele, não será fácil, ainda mais que essa diretoria do Fed tem um passado de caracterizar por vários meses como “temporária” a inflação que, impulsionada pelo desmantelamento das cadeias produtivas e pelas medidas de proteção da demanda durante a pandemia, chegou a quase 10% ao ano em 2022. Apesar do mercado apostar entre 3 a 4 cortes de 25 pontos-base ao longo do ano na taxa de juros, com início na reunião de junho do Fed, a flexibilização talvez venha apenas ao longo do segundo semestre, já que o impacto das tarifas nos preços pode ser visto a partir de julho, segundo o dirigente do Fed Christopher Waller.
A semana econômica ganha importância, com a bateria de dados de abril do mercado de trabalho nos EUA. A expectativa do mercado para os dados do pay roll na sexta-feira, 2, é de desaceleração na geração de vagas, de 228 mil em março para 130 mil no mês passado, com manutenção da taxa de desemprego em 4,2%. Números abaixo das projeções para a geração de emprego e acima da estimativa para a taxa de desemprego podem trazer um apetite ao risco no mercado e mais queda do dólar em escala global.
Também será conhecida a primeira prévia do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no primeiro trimestre, com a expectativa de uma forte desaceleração de 2,4% para 0,4% em termos anualizados. No mesmo dia, será divulgado o índice PCE, indicador preferido do Fed de cálculo da inflação. Se esses dados vierem acima do esperado juntamente com o payroll na sexta-feira, os mercados devem interpretá-los como mais uma cautela para o Fed adiar a retomada do corte da taxa de juros. Essa incerteza global acaba refletindo na condução da política monetária no Brasil.
MERCADO NACIONAL
O presidente do Banco Central do Brasil e outros dirigentes da autoridade monetária proferiram na última semana discursos em que enfatizaram a desaceleração da economia brasileira, mas com a inflação ainda disseminada. O IPCA-15 veio bem acima do limite superior da meta de inflação não contribuiu para a elucidação da taxa terminal do atual ciclo de alta da Selic e a futura flexibilização monetária.
Esta semana será importante para o entendimento do estágio do aquecimento da economia brasileira em março, mesmo com feriado na quinta-feira. Os números do setor externo serão apresentados nesta segunda-feira, 28, com os investidores avaliando se há a confirmação da tendência de deterioração no déficit de Transações Correntes e a qualidade do seu financiamento. No mesmo dia será divulgado o Relatório Focus, do Banco Central, com estimativas de analista sobre indicadores nacionais.
No dia seguinte, terça-feira, 29, será a vez dos dados de empréstimos bancários de março, ainda sem o impacto do novo crédito para os trabalhadores da iniciativa privada, o qual deve ter implicação a partir de maio com a entrada dos grandes bancos no segmento. No mesmo dia, o IGP-M de abril, a inflação do aluguel, será divulgada e apontará se a deflação do índice verificada em março continua ou foi um caso isolado.
Na quarta-feira, 30, antes do feriado, o Banco Central apresenta os dados do setor público, outro ponto de incerteza relacionado à política monetária. Os crescentes gastos do governo e a desconfiança em relação à sustentabilidade do arcabouço fiscal, especialmente após as eleições presidenciais de 2026, são pontos de atenção que podem afetar no médio e longo prazo a cotação do dólar e a taxa de juros futuros caso haja uma normalização na incerteza internacional provocada pelas tarifas de Trump.
No mesmo dia, dados do mercado de trabalho de março no Brasil serão conhecidos. Os números de fevereiro surpreenderam, o que apresentou um mercado de trabalho aquecido, o que não permite um tom menos duro na política monetária. Resta saber se a desejada desaceleração da geração de emprego tenha chegado após o choque de juros iniciado no segundo semestre do ano passado.