Faturamento das PMEs volta a recuar 2,4% em março, aponta indicador

Sondagem revela que 51% dos empresários preveem uma piora no mercado a curto prazo

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O Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs) aponta recuo no faturamento médio das pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras em março de 2025 (-2,4% YoY), após estabilidade (+0,3% YoY) em fevereiro deste ano. Com isso, o primeiro trimestre encerrou com queda de 1,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, resultado mais fraco do mercado de PMEs desde o último trimestre de 2021. O IODE-PMEs funciona como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$50 milhões anuais, divididas em 736 atividades econômicas que compõem quatro grandes setores: Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços.

Para Felipe Beraldi, economista e gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, plataforma de gestão (ERP) na nuvem, responsável pelo índice, “a queda do IODE-PMEs no período ocorreu em um momento macroeconômico desafiador, com maiores pressões inflacionárias, subida das taxas de juros pelo Banco Central do Brasil e, especialmente, significativa deterioração das expectativas dos agentes econômicos”.

O economista explica que o choque de confiança na economia ocorre tanto em virtude de incertezas domésticas com a condução da política econômica, quanto pelo aumento dos riscos na economia global, com o debate em torno do aumento de tarifas comerciais nos Estados Unidos sob o governo Trump.

Indicadores de confiança atualizados recentemente sinalizam uma piora de expectativas na evolução da economia nos últimos meses, como a Sondagem do Consumidor da FGV-IBRE. Segundo o levantamento, houve queda da confiança do consumidor entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, com o indicador permanecendo no campo pessimista em março deste ano, apesar de uma alta modesta observada no mês. “O quadro reflete a deterioração da situação financeira e expectativas das famílias, no contexto de subida de juros e aceleração da inflação de alimentos”, avalia Beraldi.

Na mesma direção, a Sondagem Omie das Pequenas Empresas, realizada entre fevereiro e março de 2025, reforça esse panorama de deterioração das expectativas dos pequenos empreendedores em relação ao ambiente econômico doméstico. O levantamento mostra que os empresários estão mais pessimistas, com 51% sinalizando perspectiva de piora da economia, número maior do que os 39% da sondagem realizada em setembro de 2024.

COMÉRCIO LIDERA

O Comércio continua sendo o principal destaque positivo no mercado de PMEs, mesmo que em desaceleração. Em março de 2025, as empresas do segmento registraram um avanço de 2,9% no faturamento real em relação ao mesmo período do ano anterior, após +13,1% YoY em fevereiro. O setor segue impulsionado pelo crescimento do atacado (+4,3% YoY), especialmente em atividades como ‘representantes comerciais e agentes do comércio de medicamentos, cosméticos e produtos de perfumaria’, ‘comércio atacadista de equipamentos elétricos de uso pessoal e doméstico’ e ‘comércio atacadista de bebidas’.

Já o varejo voltou a apresentar retração no mês (-3,0% YoY), após modesto crescimento em fevereiro (+1,2% YoY). Apesar do resultado negativo, há segmentos que mantêm crescimento, tais como: ‘comércio varejista de medicamentos veterinários’, ‘comércio varejista de equipamentos para escritório’ e ‘comércio varejista de alimentos’.

Outro setor de destaque foi Serviços, no qual as PMEs registraram um crescimento de 1,5% em comparação com março de 2024. O resultado foi impulsionado pelas atividades de ‘informação e comunicação’, ‘artes, cultura, esporte e recreação’ e ‘atividades financeiras’. No entanto, é importante destacar o desempenho ainda fraco em importantes segmentos, como ‘educação’ e ‘serviços profissionais e técnicos’.

As PMEs Industriais também registraram nova retração em março de 2025, com queda de 7% na comparação anual, marcando o quinto recuo consecutivo. Entre os 23 subsegmentos da indústria de transformação monitorados pelo IODE-PMEs, 16 apresentaram redução no faturamento, com destaque negativo para as atividades de ‘metalurgia’ e ‘fabricação de móveis’. Entretanto, alguns segmentos mostraram crescimento no período, especialmente ‘fabricação de produtos de metal’ e ‘fabricação de produtos químicos’.

Por fim, o IODE-PMEs também indica recuo do setor de Infraestrutura, em que as PMEs registraram queda de 5% no faturamento médio real em março. O contexto de juros elevados e a queda da confiança já impactam negativamente alguns segmentos da cadeia da construção civil, especialmente ‘construção de edifícios’ (-29,7% YoY) e ‘serviços especializados para construção’ (-14,4% YoY).

“Mesmo com grandes desafios macroeconômicos no radar, o cenário básico para a economia brasileira não sugere uma interrupção total do crescimento. O principal fator que sustenta essa perspectiva é a continuidade no crescimento da renda das famílias brasileiras, em grande parte devido ao avanço dos rendimentos reais do trabalho nos últimos meses”, afirma Beraldi. No acumulado dos 12 meses até fevereiro de 2025, o rendimento médio real do trabalho no Brasil registrou um crescimento de 4,4%, mantendo-se em níveis muito superiores ao período pré-pandemia (+7,8% em fevereiro de 2025 comparado à média de 2019).