PNAD terá emprego formal aquecido, mesmo com endividamento e inflação em alta

Economista alerta recomposição da renda tem efeito marginal positivo sobre o consumo das famílias

Foto: Guilherme Testa/Correio do Povo

Na próxima divulgação da PNAD Contínua, analistas projetam uma redução da taxa de desocupação para a faixa de 6% a 7%, impulsionada pelo desempenho dos setores de construção civil e serviços.  Em contraponto, o endividamento ainda é um ponto de atenção diante do mercado aquecido. A análise prévia do especialista da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) também indica que o IPCA deve encerrar o ano em 5,6% e compara a atuação das políticas monetárias na inflação.

Fabio Scaringella, que é coordenador Acadêmico de pós-graduação da FIPECAFI e especialista em economia, ao analisar o IPCA, explica que esse movimento de alta é impulsionado por choques pontuais de oferta, especialmente no grupo de alimentação e de combustíveis, que têm um impacto direto no índice.

“A pressão nos alimentos decorre da recente quebra de safra em algumas regiões produtoras, agravada por eventos climáticos adversos. Já no segmento de energia, o reajuste das tarifas de gasolina e diesel, diante da elevação das cotações internacionais do barril de petróleo e da reoneração de tributos, contribui para a sua elevação. Além disso, a pressão inflacionária também é impactada pela demanda interna aquecida e pela desvalorização do real frente ao dólar, elevando os preços de importados”, comenta.

MERCADO DE TRABALHO

Já ao que se refere ao mercado de trabalho, os dados da PNAD Contínua sinalizam, na opinião de Scaringella, como uma continuidade na recuperação gradual da ocupação. Para o especialista da FIPECAFI, esse valor representa uma queda de aproximadamente 1 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano anterior.

O economista ainda ressalta que o rendimento médio mensal real das pessoas ocupadas também apresentou um aumento, chegando a R$ 3.378,00, e que a formalidade nos empregos tem avançado de forma lenta, concentrando-se nos setores de serviços e construção civil. Já o emprego informal, esse que ainda responde por uma parcela expressiva da força de trabalho, reflete as limitações estruturais do mercado.

“A massa de rendimentos reais apresenta leve tendência de alta, embora contenha forte dispersão entre faixas de renda e regiões. Essa recomposição da renda tem efeito marginal positivo sobre o consumo das famílias, mas, ainda, enfrenta restrições relevantes, como endividamento elevado e custo do crédito em patamar historicamente alto. Mesmo com o arrocho no crédito, dada a alta nos juros, a tendência é que os dados permaneçam aquecidos”, explica o coordenador Acadêmico de pós-graduação da FIPECAFI, Fabio Scaringella.

FOCUS

A mediana do Relatório Focus para a Selic no fim de 2025 permaneceu em 15%, sugerindo alta nos juros de 0,75 ponto percentual, acima dos 14,25% atuais. O ambiente macroeconômico do país, no início do segundo trimestre de 2025, reflete uma dinâmica de transição entre o desmonte do ciclo restritivo da política monetária e os efeitos defasados da política fiscal, como ressalta Scaringella sobre os efeitos nos dois índices em questão.

“É notável que o Comitê de Política Monetária está atento ao cenário econômico e financeiro do país e isso afeta os resultados dos índices. Com isso, é natural que o Copom eleve a taxa e sinalize um novo aumento, sendo menor do que 1 ponto percentual, na sua próxima reunião, em compromisso com o controle da alta dos preços considerando a expectativa de inflação acima da meta estimada entre 3% e 4,5% ao ano”, finaliza.