Super Semana de taxa de juros em meio à guerra comercial de Trump

Expectativa é que a Taxa Selic suba para 14,25% no encontro desta semana

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A semana econômica será de decisões das taxas de juros em um grande número de mercados mundiais. Será a vez dos bancos centrais de Brasil, EUA, Japão, China e Reino Unido decidirem qual o caminho da política monetária até a próxima reunião das diretorias das respectivas autoridades. A expectativa é de manutenção em todos eles, o mercado vai monitorar, dessa forma, os comunicados e, nas autoridades monetárias que tem a tradição de entrevista coletiva após as decisões, nos comentários dos presidentes de cada um deles.

Na agenda doméstica abre nesta segunda-feira, 17, com o conhecido Relatório Focus, do Banco Central, com a estimativa dos agentes econômicos sobre os principais indicadores da economia brasileira. Também hoje, o IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, será apresentado pelo Banco Central e pode confirmar sinais de desaceleração. Além disso, o IGP-M será apresentado na quinta-feira, 20, e dados de arrecadação de impostos e contribuições devem ser divulgados durante a semana. No campo político, o destaque é para a votação do Orçamento deste ano, que pode acontecer nesta semana na Comissão Mista de Orçamento (CMO) e no Congresso.

A quarta-feira 19, realmente merece a alcunha de Super Quarta, tradicionalmente usada no mercado brasileiro quando há a dobradinha de anúncio de taxa de juros no Brasil e nos EUA. Além dos dois países, o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) vai divulgar a decisão de política monetária no começo da madrugada de terça-feira, 18, para quarta (horário de Brasília), enquanto a do Banco Popular da China será na quarta-feira, 19, à noite. Já o Banco da Inglaterra (BoE) apresenta a sua decisão na quinta-feira, 20, pela manhã.

“O mercado tem expectativas distintas para cada decisão, já que cada uma dessas economias passa por momentos e desafios diferentes. O único fator de fonte de incerteza para cada Banco Central são os anúncios ou ameaças intempestivas de tarifas sobre importações do presidente dos EUA, Donald Trump, para os produtos de outros países. Além disso, Trump reitera a adoção de tarifas retaliatórias para todos os países em 2 de abril”, diz Leandro Manzoni, analista de economia da Investing.com.

No Brasil, a expectativa do mercado é a confirmação do forward guidance do Comitê de Política Monetária (Copom) estabelecido na reunião de dezembro, quando contratou duas altas de 1 ponto percentual nos dois encontros seguintes. A reunião deste mês é a segunda após a reunião de dezembro. Lembrando que a atual taxa Selic (taxa de juros) no país é de 13,25% ao ano e a expectativa é que suba para 14,25% no encontro desta semana.

Taxa Selic deve chegar a 14,25% nesta semana, maior nível desde 2006 ...

Com isso, a taxa vai atingir o maior patamar registrado desde julho de 2006, na quinta alta consecutiva, desde setembro. É a segunda reunião com o comando do presidente do BC, Gabriel Galípolo, que tomou posse no começo do ano. O novo ciclo de alta da Selic começou em setembro do ano passado. Em novembro, a elevação foi de 0,50, passando para 11,25%, e chegou a 12,25% ao ano em dezembro, com alta de 1 ponto percentual. Em janeiro deste ano, houve outra alta de 1 ponto percentual, e a taxa chegou a 13,25% ao ano.

A dúvida dos investidores é o teor do comunicado em relação às próximas decisões, especialmente à taxa terminal deste atual ciclo de aperto monetário, a magnitude das próximas altas (se houver) e como o colegiado avalia a economia brasileira em meio:

  • À desaceleração da atividade econômica.
  • Dólar mais baixo.
  • Trajetória de endividamento público melhor do que o esperado (embora com risco fiscal presente com a tendência de crescimento forte da dívida pública).
  • Mas, com o mercado de trabalho ainda robusto.
  • E a inflação acima do teto superior de 1,5 ponto percentual em relação à meta de 3% com perspectiva de manutenção neste patamar ao longo do primeiro semestre.

“A expectativa de inflação no Brasil parou de se deteriorar. Porém, ela está em um nível acima do teto superior da meta de inflação. Nos EUA, a dúvida é a direção dos próximos passos do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Hoje, ganha a força no mercado três cortes de juros de 0,25 ponto percentual ao longo de 2025, que hoje transita entre os 4,25% e 4, 50%, com a perspectiva de desaceleração da economia dos EUA em meio à queda de confiança dos consumidores, além de um mercado de trabalho que esteja deixando de estar apertado”, diz Manzoni.

Além disso, sinaliza o analista da Investing.com, a inflação caminha, ainda que lentamente, à meta de 2% ao ano. As ameaças e aplicações de tarifas de Trump podem jogar água no chope neste cenário com risco de reaceleração da inflação, pois as tarifas podem elevar o nível de preços, um efeito contrário ao pretendido por Trump, de que as tarifas seriam pagas pelos países exportadores.

Por isso, ganha importância as Projeções Econômicas do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), com as medianas das estimativas de cada membro do Fed em relação à inflação ao consumidor, mercado de trabalho, PIB e, principalmente, as taxas de juros deste ano até 2027. O documento das Projeções Econômicas do Fomc será divulgado junto com a taxa de juros na quarta-feira, 19, à tarde, que deve elucidar o quão cauteloso estará a autoridade monetária dos EUA em relação a cortes, manutenção e até alta de juros no curto prazo, e qual variável do duplo mandato do Fed na política monetária (estabilidade de preços e pleno-emprego) terá maior ênfase.

Além das decisões dos Bancos Centrais, o investidor brasileiro ficará de olho na continuação da temporada de balanços de empresas brasileiras com ações negociadas na B3. O destaque da semana serão os resultados do 4º trimestre de 2024 de Hapvida, Vivara, Cemig, Taesa, Energisa, Cyrela e Yduqs.

(*) com R7