Posse de Trump movimenta as atenções do mercado

Nesta segunda sai a balança comercial com expectativa de forte queda na comparação com 2023

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A expectativa do mercado em relação aos primeiros comportamentos e medidas do presidente eleito Donald Trump começa a se dissipar na próxima segunda-feira, 20, quando o republicano assume a Casa Branca para o segundo mandato. Trump promete implementar medidas logo após a cerimônia de posse, e decisões sobre tarifas estão entre elas. No cenário interno, na terça-feira, 21, o IGP-M será divulgado, em sua segunda prévia, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). Já o IPCA-15, prévia da inflação oficial será divulgado na sexta-feira, 24, com expectativa de alta de 0,10%, e desacelerando em relação ao resultado de dezembro quando chegou a 0,34% e fechando o ano em alta de 4,71%.

 

“Resta saber se as tarifas são apenas um instrumento de retórica para pressionar outros países, independentemente de aliado ou adversário, para atingir outros objetivos econômicos e geopolíticos americanos, ou se elas serão realmente um instrumento para o retorno da produção industrial aos EUA atualmente encontrada em outros países, a maioria na Ásia”, comenta Leandro Manzoni, analista de economia da Investing.com.

As tarifas serão utilizadas concomitantemente para os dois objetivos, mas um deles prevalecerá e dominará o entendimento do mercado. Haverá mais apetite ao risco nos mercados e com tendência de um dólar mais enfraquecido na próxima semana caso as tarifas sejam vistas como “fracas” e ligadas para atingir outros objetivos econômicos e os geopolíticos, ou de aversão a risco e a continuação da tendência de alta do dólar caso seja para um fortalecimento da economia interna americana.

“A partir da posse de Donald Trump como presidente podemos esperar que o mandatário enxergue Brasil e México como adversários ideológicos no hemisfério, pelas suas atuais administrações. No caso do México, a pauta é sem dúvida a imigração e o controle precário que o México realiza sobre as fronteiras. No caso do Brasil, a proteção tarifária que o Brasil aplica, especialmente sobre automóveis e aço, dentre outros produtos, será motivo para o reajuste de tarifas aos produtos brasileiros”, avalia o professor da Escola de Negócios da PUCRS, Gustavo Moraes.

Na opinião do analista Leandro Manzoni, em outra dimensão, as prováveis medidas econômicas que serão adotadas poderão enfraquecer o dólar, ao menos em um primeiro momento, o que pode ajudar o governo brasileiro na tentativa de controlar o câmbio, embora dependa mais de medidas internas. “Finalmente, o alinhamento corporativo que se verifica em favor do governo Trump, com empresas demonstrando apoio à agenda do presidente, pode dificultar a agenda política do presidente Lula”, diz.

IMIGRAÇÃO

A tarifa não é o único prato neste cardápio das principais primeiras medidas de Trump no cargo. Questões imigratórias, de tributação e regulatórias estarão no radar dos investidores para entender a direção do preço dos ativos ligados aos juros futuros – e a precificação da decisão de juros do Fed ao longo de 2025 – e a ação de empresas de setores como bancários e de energia.

Quem estará também de olho no que ocorre nos EUA na segunda-feira são os dirigentes do Banco do Japão (BoJ), que definirão a nova taxa de juros do país na próxima sexta-feira, 24. A expectativa do mercado é de que o BoJ aumente as taxas em 25 pontos-base, elevando os juros de 0,25% para 0,5% ao ano. Já as autoridades não deram essa indicação, apontando que a alta das taxas de juros pode ocorrer na reunião de março. O único consenso entre os dirigentes do BoJ é que a taxa de juros da economia japonesa está baixa e deverá subir no curto prazo. Na avaliação de economistas, a alta de juros está assegurada se as medidas de Trump não abalarem os mercados mundiais, mas deve ser postergada se houver turbulência nas bolsas globais ao longo da próxima semana.

FORUM DE DAVOS

Em semana também movimentada com o Fórum Econômico Mundial, que ocorre anualmente em Davos (Suíça), os calendários econômicos global e nacional estão esvaziados. Os destaques globais ao longo da semana são a decisão da taxa de juros pelo Banco Central da China no domingo e as prévias dos Índices dos Gerentes de Compras (PMIs, na sigla em inglês) de janeiro no Japão, Reino Unido, Alemanha, França, Zona do Euro e EUA.

O encontro de Davos terá a presença, a partir desta segunda-feira, 20, de quase 3 mil líderes de mais de 130 países, incluindo 60 chefes de Estado e de governo. Pelo segundo ano seguido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não comparecerá ao evento. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que esteve em Davos no ano passado, também não confirmou presença. Já o presidente da Argentina, Javier Milei, confirmou sua participação.

No Brasil, os destaques da semana ficam com a arrecadação federal de dezembro e de 2024 na quinta-feira, 23, além da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Já a prévia da inflação de janeiro (IPCA-15) de janeiro acontece na sexta-feira, 24. Na temporada de balanços em Wall Street, o destaque é os resultados do quarto trimestre de 2024 da Netflix na terça-feira, 21.