Brigas entre suspeita de envenenar bolo e sogra começaram após saque bancário em 2004

Antes de ser presa, Deise Moura dos Anjos prestou depoimento em que explica origem de divergências com Zeli dos Anjos

Deise e a sogra, Zeli, que permanece hospitalizada após comer bolo envenenado | Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução / CP

As brigas entre Deise Moura dos Anjos, suspeita de envenenar o bolo que matou três pessoas em Torres, e a sogra, Zeli dos Anjos, começaram após um saque não autorizado de R$ 600, o que corresponde a pouco mais de R$ 2,4 mil nos dias atuais, segundo dados corrigidos pelo IGP-M.

Depoimentos colhidos no curso da investigação apontam que o fato ocorreu há mais de 20 anos, e que isso desencadeou atritos entre as duas ao longo de décadas. A Polícia Civil suspeita que as divergências motivaram o crime na véspera do Natal.

Antes de ser presa, no domingo, a própria investigada confirmou o histórico de desentendimentos com Zeli. Ela disse aos policiais que as brigas começaram em agosto de 2004, quando a sogra teria feito um saque de R$ 600 de uma conta conjunta dela e do marido.

A versão é que Zeli pegou o cartão bancário do filho sem pedir e fez o saque. O valor teria sido devolvido ao gerente do banco no dia seguinte mas, nas palavras de Deise, a relação entre elas “nunca mais foi a mesma pois não havia mais confiança”.

O relato também dá conta que Zeli teria pedido desculpas, mas nunca esclareceu a razão do suposto saque indevido. Deise adicionou ainda que, a partir de então, passou a chamar a sogra de “naja”.

Nora culpa sogra por problemas no casamento

Deise e o companheiro são pais de um menino de 11 anos, mas o relacionamento é permeado por turbulências. O casal chegou a ficar separado por alguns meses, período em que Deise morou na casa da irmã, mas acabou se reconciliando.

Em 21 de novembro de 2024, Deise chegou a fazer uma queixa de vias de fato contra o marido. Ela mencionou a rivalidade com a sogra no boletim da ocorrência. A descrição deixa subentendido que Deise culpava Zeli por problemas no casamento.

“Desde o dia em que a mãe dele invadiu nossa privacidade e nos roubou, nossa vida foi um inferno. Mesmo assim, sempre o apoiei, ajudei, fui mãe praticamente sozinha […] Nossa família nunca se deu bem, ficamos muitos anos longe da família dele por “n” motivos”, afirmou Deise na ocasião.

Sogro morreu por intoxicação após visita de nora

Deise informou aos policiais que uma tentativa de reconciliação ocorreu no dia 31 de agosto do ano passado. Ela e o marido, residentes de Nova Santa Rita, foram visitar Zeli em Arroio do Sal, onde ela morava desde que teve a casa atingida na enchente em Canoas.

Os visitantes levaram bananas e leite em pó para a sogra no Litoral Norte. No dia seguinte, Zeli e o marido, Paulo Luiz dos Anjos, passaram mal após ingerir os alimentos e foram hospitalizados.

O homem morreu no dia 2 de setembro. Ele teve vômitos e diarreia, os mesmos sintomas observados nas pessoas que ingeriram o bolo no último dia 23 de dezembro, em Torres.

A família acreditou que Paulo havia morrido por intoxicação alimentar. À época, houve a crença de que o motivo seria o consumo das bananas, teoricamente contaminadas na enchente.

Agora, após a perícia detectar a presença de doses letais de arsênio no bolo e em três das vítimas que comeram a sobremesa na véspera do Natal, o corpo dele será exumado. A suspeita da polícia é que Paulo também foi alvo de envenenamento.