Ata do Copom, Fed, inflação e PIB dos EUA movimentam semana prévia do Natal

Comunicado do BC já sinaliza a possibilidade de dois novos aumentos na mesma magnitude nos próximos encontros

Foto: Marcello Casal Jr./ABr

Não é porque 2024 está terminando significa que a agenda econômica se esvazia. A semana que começa para a economia terá uma bateria de divulgação de indicadores, especialmente no exterior. No Brasil, o calendário econômico está mais enxuto, mas com dados e eventos relevantes, temperado com as incertezas em relação à política em Brasília. O Banco Central, que divulga nesta terça-feira ,17, a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), surpreendeu com a aceleração para 1 ponto percentual na alta da taxa Selic, saindo dos 11,25% para 12,25%, no forward guidance de alta de mesma magnitude nas duas primeiras reuniões de 2025 e no tom duro e direto do comunicado.

As incertezas em relação à tramitação do pacote fiscal de contenção de gastos nos próximos anos e à saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxeram novamente o sentimento de aversão ao risco no mercado brasileiro. Por mais que a Câmara tenha suspendido as atividades para focar na próxima semana nas votações da regulamentação da reforma tributária, do pacote fiscal e da Lei de Diretrizes Orçamentárias, o risco agora é de que ocorra desidratação na proposta que prevê uma economia, segundo cálculos do governo, de R$ 71,6 bilhões nos próximos dois anos.

Nas estimativas do mercado, as medidas propostas pela equipe econômica ficam aquém das projeções oficiais, girando em torno de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões de economia. O Banco Central tem mais uma chance de reorganizar as expectativas do mercado na próxima semana, tornando a política monetária como a “variável de ajuste”, segundo o economista André Perfeito.

RELATÓRIO FOCUS

A semana começa com a divulgação do Relatório Focus, do Banco Central, que deve trazer atualizações das projeções do mercado para 2024, 2025 e 2026 do IPCA, IGP-M e PIB, com as projeções da inflação reforçando a deterioração da expectativa de inflação com o IPCA rompendo o teto superior da meta de inflação para este e o próximo ano. Na terça-feira, 17, será divulgada a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), enquanto na quinta-feira, 19, será apresentado o último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que no ano que vem passará a ser chamado de Relatório de Política Monetária. No mesmo dia, Roberto Campos Neto se despede publicamente da presidência do Banco Central com a participação do Diretor de Política Monetária Gabriel Galípolo, que vai assumir a presidência da autoridade monetária no próximo ano.

O esforço do Banco Central pode ser insuficiente caso o pacote fiscal não seja votado pelo Congresso, ou a versão que for aprovada seja desidratado, além do risco do Orçamento de 2025 estiver a aprovação do novo valor do salário mínimo de acordo com a regra anterior, que prevê um reajuste acima do teto de 2,5% exigido pelo arcabouço fiscal. A equipe econômica não descarta a possibilidade de edição de uma Medida Provisória para adequar a regra de reajuste do salário mínimo dentro da regra do arcabouço fiscal.

Os outros indicadores importantes da economia brasileira na semana são os dados de arrecadação de novembro na sexta-feira, 20. Estes dados tem uma alta probabilidade de quebrar recordes novamente ou se aproximar deles. É uma boa notícia para a equipe econômica, porém com os gastos em patamares elevados, dificilmente as contas públicas vão fechar na meta de déficit primário zero.

O governo trabalha para que as contas fechem dentro da banda de tolerância, com um déficit primário de 0,25% do PIB, embora o mercado desconfie que esse número seja atingido. De acordo com o último Boletim Focus, a expectativa dos economistas consultados pelo Banco Central é de um déficit primário de 0,5% do PIB em 2024. Exterior

EXTERIOR

A semana tem ainda grandes decisões concentradas para o meio e fim da semana. Na quarta-feira, 18, haverá a decisão de juros do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), com a expectativa de um corte de 25 pontos-base, para o intervalo de 4,25-4,5%. Além disso, o Fed vai divulgar as projeções econômicas, com foco especial para a taxa de juros, com o mercado esperando um menor número de cortes de juros para 2025.

Na quinta-feira, 19, haverá a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA do terceiro trimestre. A expectativa é de confirmação do crescimento de 2,8% no período. No dia seguinte, será a vez do índice PCE, indicador de inflação preferido do Fed. A política monetária também será destaque no Reino Unido e no Japão, ambos na quinta-feira.

A autoridade monetária britânica deve manter a taxa de juros em 4,75% ao ano. No Japão, os economistas esperam uma alta de 25 pontos-base na taxa de juros, para 0,5% ao ano, enquanto o mercado espera manutenção. Reportagem da Reuters na última quinta-feira apontou que os membros do Banco do Japão (BoJ) devem manter a taxa de juros inalterada, esperando por novos dados de crescimento de salários e o início do governo de Donald Trump nos EUA. De acordo com a Reuters, a alta de juros pelo BoJ ocorreria apenas em março.