Plano de golpe contava com estrutura e funções organizadas

São mais de 800 páginas relativas às operações Tempus Veritatis e Contragolpe, que levaram ao indiciamento de 37 pessoas: entre elas, Bolsonaro e Braga Netto

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, integrava cinco dos seis núcleos identificados | Foto: Reprodução / TV Justiça / CP

O inquérito da Polícia Federal (PF), encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), resultado das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, mostra que o plano que visava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e garantir a permanência de Jair Bolsonaro (PL) no poder não teve nada de amador e contava com núcleos de ação organizados e estruturados.

São mais de 800 páginas relativas às operações Tempus Veritatis e Contragolpe, que identificou o planejamento para matar Lula, Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes.

As investigações levaram ao indiciamento de 37 pessoas, entre elas, Bolsonaro e Braga Netto, ex-ministro da Defesa e seu vice em 2022, pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Outros aliados do ex-presidente e integrantes de alta patente também estão na lista, que, aliás, conta com maioria de militares.

De acordo com a PF, as atuações dos envolvidos foram estruturadas por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a identificação do papel de cada ator. Os seis núcleos localizados durante as investigações tinham tarefas bem estabelecidas. São eles: o de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral, o Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado, o Jurídico, o Operacional de Apoio às Ações Golpistas, o de Inteligência Paralela e o Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas.

As informações que constam do inquérito, que agora depende da Procuradoria-Geral da República (PGR), que pode apresentar a denúncia, arquivar ou pedir mais investigações, interligam episódios que, tratados de individualmente, já são graves, mas ganham outras proporções quando interligados, como peças de um amplo, complexo e criminoso quebra-cabeças.

Além deste último, sem dúvida o mais grave, Bolsonaro está indiciado em outros dois inquéritos, relativos aos casos das joias sauditas e de falsificação de certificados de vacinação contra a Covid-19.

Cinco de seis

Mauro Cid (foto), ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, integrava cinco dos seis núcleos identificados durante as investigações da Polícia Federal. Após novo depoimento à PF, na terça-feira, e, nesta quinta-feira, ao ministro Alexandre de Moraes, no Supremo, Cid teve sua delação premiada mantida.

Nos últimos dias, a delação havia sido colocada em xeque em função de omissões e contradições. Parte delas, sobre o planejamento de assassinato de Lula, Alckmin e do próprio Moraes.

Estrategista de Milei está entre os indiciados

O influenciador argentino Fernando Cerimedo está na lista de indiciados da Polícia Federal. Cerimedo protagonizou ataques incisivos contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o resultado das eleições brasileiras, após a derrota de Bolsonaro, em 2022.

Foi estrategista digital da campanha de Javier Milei na Argentina. Segundo a PF, Cerimedo integrava o núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral no organograma que atuava para viabilizar o golpe.