Incertezas no comércio trazidas pelo efeito Trump, avalia FGV

Presidente eleito anunciou que pretende elevar as tarifas de importações em 60% para a China, e 20% para outros países

Crédito: Abicalçados

A eleição de Trump traz um cenário de incertezas e tensões no comércio mundial. Além de declarar que não apoiará as iniciativas relacionadas ao tema da transição energética em direção a fontes limpas, o presidente anunciou que pretende elevar as tarifas de importações em 60% para a China, de 10% até 20% para outros países e, dependendo de negociações sobre emigração, em 25% para o México. Efeitos inflacionários, aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e valorização do dólar são alguns dos possíveis efeitos dessa medida que irão repercutir no resto do mundo. No caso brasileiro, um dos impactos seria a menor margem de manobra para reduzir juros.

A análise faz parte do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), divulgado nesta sexta-feira, 22, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). No campo do comércio, medidas unilaterais de proteção poderão ensejar um acirramento do protecionismo no mundo, o que reduzirá o crescimento do comércio mundial. Ainda há dúvidas se Trump irá impor esse aumento generalizado para todos os parceiros, fora a China, ou usará essa ameaça como arma para extrair vantagens como acesso a mercados ou alianças contra China.

A participação do Brasil nas importações dos Estados Unidos foi de 2,6% e nas exportações de 1,2%, em 2022. Segundo os dados do WITS Trade do Banco Mundial, entre os 116 países que os Estados Unidos têm superávit, o Brasil está na 7ª posição. O maior superávit é com os Países Baixos, seguido de Hong Kong, Cingapura, Austrália, Emirados Árabes e Reino Unido. Esse resultado poderia ser entendido como favorável ao Brasil. No entanto, no primeiro mandato Trump, por questões de segurança nacional impôs restrições para vários produtos siderúrgicos e de alumínio, o Brasil não foi excluído.

DESTINO

Os Estados Unidos são o segundo destino das exportações brasileiras, após a China. A diferença na participação dos dois países supera 10 pontos percentuais. No acumulado até outubro, a participação da China era de 29,3% e dos Estados Unidos de 11,6%. Durante esse ano, o desempenho das vendas para os Estados Unidos superou o da China. Entre o acumulado do ano até outubro de 2023 e 2024, o volume exportado para os Estados Unidos cresceu +11,5% e para a China, +3,9%. Na comparação mensal, o volume exportado para a China recuou em -10,2% e para os Estados Unidos aumentou em +7,7%.
Chama a atenção no gráfico, o aumento mensal de +28,6% para a Argentina, embora no ano o volume tenha caído em -24,1%. As vendas de automóveis explicam esse resultado.

Nas importações, a China lidera o aumento do volume importado na comparação mensal
(+63,6%) ou no acumulado do ano (+38,6%). Para os Estados Unidos, as variações são menores — +4,3% (mensal) e +3,4% (acumulado no ano). Apesar da maior variação no volume importado do que exportado para a China, os preços de exportação recuaram -7,1% e os da importação -13,1%. No caso dos Estados Unidos, o resultado é o inverso, maior variação no volume exportado do que no importado, mas os preços exportados recuam -1,8% e os de importação aumentam +2,6%, o que ajuda a explicar o déficit comercial com os Estados Unidos e o superávit com a China, além do nível de exportação da China ser superior ao dos Estados Unidos. O aumento das importações da Argentina em +28,3%, em outubro, junto com o das exportações se concentram no setor automotivo, sinal do comércio intra-indústria.