De estrela da TV à Casa Branca: Trump recupera eleitorado ao prometer vagas e menos taxas

Empresário de sucesso do setor imobiliário, republicano volta a governar os EUA 4 anos após perder para o democrata Joe Biden

Ousado e polêmico, ex-presidente ficou quatro anos fora do poder e fundou rede social Foto; Reprodução/Facebook/Donald Trump/R7

Donald Trump, uma figura que mescla negócios, entretenimento e política, retornará ao posto de presidente dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 2025, depois uma trajetória marcada por altos e baixos.

Esta eleição reflete o apoio expressivo que o ex-presidente republicano manteve entre uma grande parcela do eleitorado americano, apesar das controvérsias. Agora, aos 78 anos, ele se torna a pessoa mais velha a ser eleita para o cargo — Joe Biden tinha 77 em 2020 — e promete uma nova fase para o país.

Em um discurso de vitória, na madrugada desta quarta-feira (6), na Flórida, ele falou em “uma era de ouro” para os americanos.

Nascido em 1946, Trump foi o quarto dos cinco filhos de Fred Trump, um empresário do setor imobiliário em Nova York. A carreira de Donald Trump começou na empresa de seu pai, onde ele consolidou sua visão ambiciosa. Nas décadas de 1980 e 1990, alcançou notoriedade com projetos de alto padrão, como a Trump Tower, em Manhattan, além de empreendimentos em Atlantic City.

Apesar de também enfrentar falências e reestruturações financeiras, ele foi construindo uma imagem de sucesso e poder, projetada em grande parte pela mídia durante os anos em que apresentou o reality show O Aprendiz (2004-2015).

Vida política de Trump

Trump entrou oficialmente na política em 2015, anunciando sua candidatura pelo Partido Republicano com um discurso nacionalista e populista. Surpreendendo analistas e a mídia, ele venceu a eleição de 2016 contra a democrata Hillary Clinton.

Durante seu primeiro mandato, promoveu cortes de impostos, endureceu políticas de imigração e adotou uma postura de confronto com a China. Seu governo também se destacou por nomear juízes conservadores na Suprema Corte, moldando o futuro jurídico dos EUA.

Sua administração foi marcada por polarização, mas suas políticas e postura firme atraíram apoio de uma parte significativa da população.

Após sua derrota em 2020, Trump permaneceu uma figura influente, especialmente com sua fundação, em 2022, da Truth Social, plataforma que refletiu sua habilidade de se conectar com seus seguidores.

Nas primárias republicanas de 2024, ele se manteve como favorito e obteve a nomeação do partido para disputar a presidência. A escolha do senador de Ohio J.D. Vance como vice-presidente e sua aliança com Elon Musk também marcaram a campanha, com o bilionário ajudando a impulsionar sua candidatura.

Em 2020, após a derrota para Joe Biden, Trump acusou os democratas de fraude e nunca reconheceu a vitória do adversário — ele também não participou da posse do democrata.

O ex-presidente começou as primárias do Partido Republicano neste ano como favorito e obteve a nomeação da legenda para a disputa, em uma convenção em julho. Escolheu como seu vice o senador de Ohio JD Vance.

Durante a campanha, enfrentou um atentado a tiros, em que acabou ferido, na Pensilvânia. Pouco tempo depois, um homem armado foi preso próximo a um campo de golfe onde o ex-presidente estava, na Flórida.

‘América em primeiro lugar’

A segunda presidência de Trump deverá seguir sua agenda “América em primeiro lugar”, baseada em um nacionalismo econômico e em uma política externa que prioriza os interesses dos Estados Unidos em detrimento das alianças e acordos internacionais.

A ideia central é fortalecer a soberania e a economia americana, enquanto limita o envolvimento do país em questões externas que, segundo ele, não beneficiam diretamente os cidadãos americanos.

O presidente promete intensificar as políticas de endurecimento comercial com a China, manter controle rigoroso sobre imigração, com deportações em massa de cidadãos em situação ilegal, e rever acordos internacionais que considera desvantajosos para os EUA.

Ele também sinaliza que buscará fortalecer o setor energético, com um retorno às fontes de energia tradicionais, em oposição às iniciativas verdes promovidas pela atual gestão de Biden nos últimos anos.

No campo econômico, o presidente propõe novos cortes de impostos — estima-se US$ 7 trilhões ao longo dos anos — e incentivos ao setor privado, prometendo revitalizar a economia americana e trazer empregos de volta ao território nacional.

Com uma postura mais isolacionista em relação ao mundo, Donald Trump terá que redefinir o papel dos Estados Unidos em duas guerras. Sob a gestão democrata, os americanos têm enviado armas e dinheiro para a Ucrânia enfrentar a Rússia e para Israel lutar contra grupos terroristas no Oriente Médio.

Os republicanos no Congresso, no entanto, sempre foram mais resistentes em relação a esse tipo de despesa. Eles preferem, por exemplo, usar mais recursos para proteger a fronteira com o México.

Cabe ressaltar que, pelas projeções atuais, o partido de Trump deve ter o controle da Câmara dos Representantes e do Senado, facilitando a aprovação de projetos de interesse do Executivo.

Processos judiciais

Donald Trump retorna à Casa Branca como o primeiro presidente na história dos Estados Unidos a assumir o cargo após ser condenado criminalmente.

Trump foi condenado em 30 de maio de 2024 por falsificar registros comerciais em Nova York. A sentença decorre de um pagamento de US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels, que foi feito para silenciar alegações de um caso extraconjugal antes das eleições de 2016. Esse pagamento, processado como “despesa legal” pela empresa de Trump, foi considerado fraudulento pelo júri.

O republicano também enfrenta uma série de indiciamentos em outras ações judiciais, mas, uma vez no cargo de presidente, terá imunidade durante o mandato e não poderá ser preso.

O ex-presidente classifica as batalhas judiciais como perseguição de adversários, que tinham, segundo ele, objetivo de tirá-lo do jogo político.