Ausências e brigas judiciais: como foi o segundo turno da disputa à prefeitura de Porto Alegre

Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT) voltam a se enfrentar nas urnas após uma campanha que demorou para engrenar

Foto: Mauro Shcaefer/CP

*Por Diego Nuñez e Flávia Simões

Sem quadros nacionais, com menos agendas de rua e brigas judiciais na reta final, a campanha para o segundo turno da disputa à prefeitura de Porto Alegre, na maior parte do tempo, pouco se diferenciou do que os porto-alegrenses presenciaram na primeira fase da disputa. O tom morno, os debates repetitivos e o pequeno número de material gráfico nas avenidas foram a marca principal de uma campanha que demorou para engrenar.

Os principais líderes nacionais das chapas de PT-PSol e MDB-PL, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL), ignoraram fisicamente o pleito na sexta maior economia do país.

Ausências com diferentes repercussões

A ausência de Lula desidratou a campanha de Maria do Rosário (PT), que até os últimos dias fez um esforço hercúleo para conquistar a vinda do presidente, incluindo altos valores despendidos e Rosário entrando em campo nas articulações. Não teve sucesso. De Brasília, além de alguns deputados federais, somente a presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann, que deu as caras na Capital.

Já a campanha de Sebastião Melo (MDB) não fez questão de ter Jair. Sua candidatura esteve muito bem vinculada ao bolsonarismo ao ponto de concentrar os votos da direita, sem necessitar da figura do ex-presidente, que carrega um certo nível de rejeição – ele perdeu para Lula em Porto Alegre nas eleições de 2022. Representando a família, a ex-primeira-dama Michelle chegou a fazer breve passagem na Capital, em ato propositalmente discreto em local fechado.

Melo manteve o tom; Rosário precisou de reinvenção

Por parte dos candidatos, Melo, que ganhou o primeiro turno com vantagem sobre Rosário, a estratégia se manteve, ainda que o prefeito tenha liderado alguns mutirões a mais. O emedebista buscou ampliar seus apoios – ainda que contasse com uma coligação ampla – e conquistou o PSDB do governador Eduardo Leite ainda na primeira semana. Entretanto, Leite não entrou, de fato, na campanha. Não gravou vídeos de apoio ao prefeito e se esquivou de esclarecer qual seria seu papel na campanha.

Enquanto isso, a campanha de Rosário teve de recalcular a rota. Tentou tirar o tema das enchentes do centro do debate e aumentou o tom das críticas ao adversário, trazendo a pauta de supostos casos de corrupção e do bolsonarismo. Atrás de aliados, buscou o PDT, mas ganhou um partido dividido, que teve de declarar apoio por imposição da direção nacional. O resultado foi a ausência de declaração pública da candidata trabalhista, Juliana Brizola, que não gravou nenhum material de campanha e tampouco fez publicação para Rosário em suas redes sociais.

Debates repetitivos

Os debates foram repetitivos a ponto de se tornarem exaustivos tanto para os candidatos quanto para o eleitor. Enquanto Rosário dava voltas em torno de temas como enchentes, filas nas saúde, baixo índice do Ideb e supostos casos de corrupção na Educação, debate a debate, Melo rebatia sempre com as mesmas justificativas.

Ele imputava a ela uma imagem de uma política estatista de forma pejorativa. Ela tentava ligá-lo a Bolsonaro, trazendo demais nacionais ainda da pandemia de Covid-19, como o debate sobre cloroquina, ivermectina e vacinação. Em alguns dos confrontos, o debate chegou a se nacionalizar, entre uma defesa de Lula por parte da petista e uma crítica ao PT por parte de Melo.

Propaganda gerou batalhas judiciais

Se o clima estava morno nas ruas e nos debates, foi nos programas eleitorais e nas redes sociais que a temperatura esquentou. Peças de publicidade como o “Suco de Melo”, que associavam o prefeito aos ideais bolsonaristas; e “Mariazinha” que ligava a petista a casos de corrupção ligados ao PT, geraram batalhas judiciais.

A campanha petista conseguiu retirar a “Mariazinha” do ar através de uma liminar, que foi posteriormente derrubada pela equipe jurídica do emedebista e voltou a circular.

Já Rosário sofreu um grande revés: a três dias do pleito, precisou publicar em suas redes dois direitos de resposta. As publicações afirmavam, em suma, que “Melo nunca foi acusado de corrupção em toda sua vida pública.”

Na sexta-feira foi a vez de Rosário ganhar direito de resposta nas redes do prefeito. Melo publicou: “Maria do Rosário nunca possuiu qualquer acusação de corrupção em toda sua trajetória política”.