Ata do Copom, IPCA-15, Caged e PNAD entram na mira dos investidores na semana

Documento do Copom deve trazer caminhos sobre a velocidade de alta na Selic e a taxa terminal

Foto: Marcello Casal Jr./ABr

O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 25 pontos-base na última quarta-feira. Deu a largada para um novo ciclo de aperto monetário conforme esperado pelo mercado, em um comunicado cujo conteúdo poderia ter sido, inclusive, a justificativa de uma elevação de meio ponto percentual. Após a decisão, o mercado interpretou o comunicado como “duro demais” e começou a especular a velocidade de alta na taxa Selic e a taxa terminal, com projeções superando os 12% e chegando a 13% em alguns casos.

“Esperava-se uma desinclinação na curva de juros com queda das taxas nos vértices longos, mas ocorreu o contrário, com a curva se mantendo inclinada com a alta nos vértices longos. Agora, há momentos de precificação na curva de juros de alta de 75 pontos-base na Selic para a reunião de 6 de novembro e taxa terminal de 13%”, comenta o analista da Investing.com, Leandro Manzoni.

A definição sobre a reancoragem das expectativas será tema central da ata da última reunião do Copom a ser divulgada nesta terça-feira, 24 – além do Relatório de Inflação, que será conhecido na quinta-feira, 26. O colegiado vai ter que explicar, no documento, os detalhes dos pontos que causaram a deterioração atual das expectativas de inflação, como o hiato do produto positivo e o balanço de risco assimétrico altista.

LIQUIDEZ GLOBAL

Além disso, o cenário externo, pouco citado no comunicado, receberá a atenção do mercado na leitura da ata. Por mais que os dirigentes do Copom enfatizem que “não há relação mecânica entre a política monetária dos EUA e a brasileira”, a tendência atual dos efeitos de uma flexibilização conduzida pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) é de aumento da liquidez global, com os investidores estrangeiros se posicionando em ativos de risco, entre os quais de economias emergentes como a brasileira.

Esse movimento se reflete na cotação do dólar. A valorização da moeda americana ante o real nos últimos meses é um dos fatores de alta da inflação apontada pelo Copom no balanço de risco. Uma queda do dólar, neste momento de alta da Selic e queda na taxa de juros nos EUA, ajudaria no controle da inflação na economia brasileira com a entrada de capital estrangeiro.

Embora a necessidade da alta da Selic não fosse consenso entre os economistas e gestores, com alguns defendendo que a taxa em 10,5% já estava em um patamar suficientemente contracionista para a retomada da inflação ao centro da meta, há argumentos sólidos para esse novo ciclo de aperto. Entre eles a deterioração da expectativa de inflação de 2025 e 2026 bem acima do centro da meta de 3% de inflação. A taxa acima de 4% mantém a tendência de risco de romper o teto superior de 4,5% da meta de inflação.

Apesar da deflação em agosto, o acionamento da bandeira vermelha 1 nas contas de energia elétrica, efeitos negativos da seca na oferta de alimentos e dólar negociado por volta de R$ 5,50 devem elevar a inflação acima da média do período para os próximos meses.

INDICADORES NA SEMANA

A semana reserva também outros dados importantes para a economia brasileira. Os primeiros dados constam do Relatório Focus, do Banco Central, que marca o começo de divulgação das atividades econômicas da semana. Este será o primeiro relatório pós reunião do Copom. O IPCA-15 de setembro, que será divulgado na quarta-feira, 25, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a primeira mensuração do nível de preços com impactos da seca e das queimadas, além da bandeira vermelha 1 nas contas de energia.

A expectativa é de alta de 0,27% na comparação mensal. No mesmo dia, o Banco Central realiza uma série de divulgações sobre os investimentos diretos no país (IDP), que devem ficar em US$ 8 bilhões, e sobre as transações correntes, projetadas negativas em US$ 6,5 bilhões.

Dados do mercado de trabalho de agosto, com o Caged, na quinta-feira, 26, e a taxa de desemprego, na sexta-feira, 27, vão apontar se o mercado de trabalho continua aquecido ou pode ter entrado em uma tendência de desaceleração. Outros dados importantes são a inflação ao produtor e o IGP-M de agosto, além dos empréstimos bancários e Transações Correntes.

EXTERIOR

No exterior, os destaques são a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre e o índice de inflação preferido do Fed, o PCE. Os dois indicadores serão revelados no fim da semana. O mercado vai verificar se a leitura final do PIB continua apontando expansão de 3% entre abril e junho, enquanto as atenções no índice de inflação são para monitorar a tendência de desaceleração e que venha em linha com o consenso, tanto o índice cheio como o núcleo (que exclui os itens voláteis como alimentos e energia). Além disso, dirigentes do Fed vão realizar discursos ao longo da semana. O destaque é a concentração de vários discursos no evento “U.S. Treasury Market Conference” promovido pelo Fed de Nova York, entre os quais de Jerome Powell, presidente da autoridade monetária americana.