Setor empresarial não foi surpreendido pela decisão do Copom

Entidades lembram que deixar de elevar os juros poderia custar credibilidade ao Banco Central

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A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros em 0,25 pontos percentu-ais, levando a Selic para 10,75% ao ano, veio conforme o esperado pelo mercado. No cenário internacional, o Federal Reserve, o banco central americano, anunciou uma redução de 0,5 ponto percentual, colocando a taxa de juros americana entre 4,75% e 5%.

Para a Fecomércio-RS, o último mês foi marcado por elementos que fizeram com que essa decisão não fosse surpresa. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano, apontando uma atividade bastante acelerada e os novos dados do mercado de trabalho indicando mínimas históricas para o trimestre, com expectativas ainda bastante desancoradas, colocam em cheque o cumprimento da meta de inflação no horizonte relevante.

“Não aumentar a taxa de juros nesse momento poderia custar credibilidade ao Banco Central, com impactos altistas sobre a própria trajetória futura dos juros. No entanto, vale destacar nosso descontentamento. Talvez não estivéssemos vivenciando essa situação se as contas públicas fossem mais equilibradas, isto é, se houvesse uma dinâmica menos intensa do gasto público. No estado, esse aumento da taxa de juros tem impacto especialmente danoso. O processo de recuperação e de reconstrução se move a crédito, e crédito mais caro faz toda a engrenagem rodar mais devagar.”

PROJEÇÕES PARA O ANO

Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC), com o aumento da Selic, a ex-pectativa é de que um ciclo curto de elevações tenha início, com novos ajustes nas próximas reuniões do Co-pom em novembro e dezembro, podendo elevar a taxa para algo entre 11,5% e 11,75%. Este ciclo de alta deve continuar até o final de 2025, com a taxa atingindo cerca de 12% ao ano.

A confederação enxerga essa elevação com preocupação, embora compreenda que o Banco Central esteja atuando de maneira responsável diante do quadro fiscal e das pressões inflacionárias. “No entanto, o aumen-to dos juros eleva o custo de capital para as empresas, dificulta o acesso a financiamentos e encarece o crédito ao consumidor. Esses efeitos tendem a impactar negativamente a atividade econômica, principalmente o co-mércio e o turismo, setores que dependem muito do crédito, especialmente para produtos de maior valor”, diz o comunicado da CNC. “A elevação pode prejudicar o desempenho em datas importantes como a Black Friday e o Natal”.

A CNC ressalta que a raiz desse cenário está na deterioração fiscal, com o Brasil possivelmente não alcançando a meta de déficit zero. A falta de um posicionamento claro sobre a flexibilização da meta fiscal apenas agrava as incertezas. A Confederação reitera que o descontrole fiscal e o aumento dos gastos públicos são insusten-táveis, lamentando que a solução esteja recaindo sobre os juros, prejudicando o crescimento econômico.