O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil do 2º trimestre de 2024 veio acima do consenso. E, se por um lado é uma notícia boa para a economia, por outro lado traz uma dor de cabeça para o Banco Central. A interpretação é do analista da plataforma Investing.com, Leandro Manzoni, ao avaliar os números divulgados pela Instituto Brasileiro de Geografia e Estística (IBGE).
A economia brasileira expandiu 1,4% entre abril e junho ante o primeiro trimestre do ano. O mercado esperava uma alta de 0,9%. Inclusive, o crescimento entre janeiro e março foi revisto para cima, passando de uma alta de 0,8% para 1%. “A surpresa com o PIB e a bandeira vermelha nas contas de energia elétrica devido à seca consolidam o início de alta taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião do dia 18. O mercado está agora em dúvida se a alta inicial será de 25 pontos-base ou meio ponto percentual, além da extensão do atual ciclo de endurecimento monetário – as projeções variam entre 11,25% e 12%”, diz Manzoni.
O próximo Boletim Focus vai trazer revisão do crescimento da economia brasileira para 2024. O mercado vai ficar atento ao IPCA – índice oficial de inflação – para 2025 e, especialmente, 2026. Se houver uma revisão da projeção de alta do IPCA para os dois próximos anos, vão crescer as estimativas de uma alta da Selic de meio ponto percentual. “Por enquanto, uma elevação de 25 pontos-base é o cenário-base, seguindo a declaração do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto na última sexta-feira, de que se houver início de alta, ela será gradual”, avalia o analista.
DECISÃO DO COPOM
A decisão do Copom, no entanto, não será fácil. Até porque a expectativa é de uma desaceleração da economia no segundo semestre, com redução dos gastos do governo após o contingenciamento anunciado em julho, além da própria expectativa de alta da Selic refletida na curva de juros, que encarece o crédito e diminui o apetite por investimentos da empresa e pelo consumo das famílias.
Mas, vai prevalecer a visão de uma atividade econômica corrente acima do projetado inicialmente com um mercado de trabalho apertado e massa salarial perto do pico histórico. Além disso, a inflação corrente está próxima ao teto superior do limite da meta – com risco de fechar em 2024 acima de 4,5% – e a expectativa para 2025 e 2026 está bem acima do centro da meta de 3%.
A cotação do dólar é outro fator, que está atualmente próximo a R$ 5,65, acima do cenário de referência de R$ 5,55 do Copom divulgado no comunicado e na ata da última reunião. A manutenção do dólar nesse patamar inevitavelmente é repassada aos preços, facilitada por uma economia que está rodando bem.