Poucos indicadores econômicos relevantes devem movimentar o mercado na semana entre os dias 19 e 24 de agosto. Por outro lado, os investidores globais ficarão atentos às discussões entre banqueiros centrais, economistas e acadêmicos no Simpósio de Jackson Hole, organizado pelo Federal Reserve (Fed) de Kansas City no estado de Wyoming (EUA) entre 22 e 24 de agosto e que terá a participação do presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos. O tema deste ano é “Reavaliando a eficácia e a transmissão da política monetária”.
A estrela do evento é, como sempre, Jerome Powell, presidente do Fed – banco central dos EUA. O tradicional evento, realizado há mais de quatro décadas, é geralmente utilizado para que o chairman da autoridade monetária dos EUA estabeleça as diretrizes de política monetária para os 12 meses seguintes. Powell vai realizar seu tradicional discurso na sexta-feira 23 de agosto, às 11h00 (horário de Brasília) e com transmissão pelo canal do Fed de Kansas City no YouTube.
A expectativa do discurso deste ano é em relação à condução do eminente processo de flexibilização monetária pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed, após manter a taxa básica de juros da economia dos EUA no intervalo entre 5,25% e 5,5% desde julho do ano passado. O Fomc elevou aceleradamente os juros a esse patamar entre março de 2022 e julho de 2023 para combater o pior surto de inflação desde a década de 1980.
DESACELERAÇÃO
Para encaminhar a mudança de postura, Powell deve enfatizar recentes discursos de outros membros do Fomc em relação à sua preocupação quanto à intensidade da desaceleração da atividade econômica e do mercado de trabalho, mesmo que a inflação não tenha atingido, ainda, a meta de 2% ao ano. É importante ressaltar que o Fomc, diferentemente do Copom no Brasil, tem um duplo mandato: a busca pela estabilidade de preços e do pleno-emprego.
O índice de preço dos gastos dos consumidores (PCE, na sigla em inglês), indicador de inflação preferido do Fed, está na base anual em 2,5% e com tendência de queda, enquanto o núcleo, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, está em 2,6%. Vale lembrar que há uma defasagem na eficácia de 6 a 9 meses da mudança de juros na economia, o que exige habilidade dos banqueiros centrais, neste caso de Powell e a turma do Fomc, em antecipar as tendências na economia para que mudança na política monetária não venha tarde demais.
Outro ponto importante no discurso de Powell é a sinalização quanto à extensão da magnitude de corte e sua velocidade, especialmente no início do ciclo. Na reunião de junho, o Fomc apresentou a projeção de 1 corte de juros em 2024 de acordo com a mediana das estimativas de seus membros votantes. Já a expectativa do mercado está entre 3 cortes de 25 pontos-base nas reuniões restantes do Fomc em 2024, ou em dois cortes de 25 e 1 de meio ponto percentual.
No Simpósio de Jackson Hole, Powell não vai apontar o número de cortes até o fim do ano. No entanto, ele deve enfatizar a cautela que o Fomc deve ter no momento para que a economia dos EUA siga para um pouso suave, ou seja, com desaceleração do mercado de trabalho para um ponto de equilíbrio saudável com uma inflação se encaminhando para a meta.
Embora as novas projeções do Fomc sejam divulgadas na próxima reunião do Fomc em 18 de setembro, quando a autoridade monetária deve realizar o primeiro corte de 25 pontos-base na taxa de juros, o discurso de Powell neste tradicional evento vai calibrar as expectativas de mercado para um corte total de 50 ou 75 pontos-base em 2024.
CENÁRIO DOMÉSTICO
Por aqui, a maior expectativa da semana fica nos dados de arrecadação, com previsão de R$ 231 bilhões em arrecadação de impostos em julho. No campo político, o projeto da desoneração da folha de pagamento de 17 setores e munícipios deverá ser votada no Senado nesta terça-feira, 20, com sinalização de um custo de R$ 18 bilhões por ano, sendo que o governo federal eleva este valor para R$ 26 bilhões.
A semana, semana, entretanto, começa com o IPC-S das Capitais pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) nesta segunda-feira, 19, e pelo relatório Focus, do Banco Central, com estimativas de analistas do mercado financeiro.
Na terça-feira, 20, a FGV divulga a segunda prévia de agosto do IGP-M e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) libera dados da Sondagem da Indústria da Construção, e na quinta-feira, 22, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), de agosto. Para encerrar a semana, a FGV divulga os dados do IPC-S da terceira semana de agosto.