O mercado financeiro aguarda com ansiedade pela divulgação da ata da última reunião de política do Comitê de Política Monetária (Copom) na terça-feira, 6, pelo Banco Central (BC) e da inflação ao consumidor medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira, 9. Estes dois dados podem diminuir as incertezas em torno da política monetária no Brasil na semana entre os dias 4 e 9 de agosto.
Com a retomada dos trabalhos legislativos após o recesso, a atividade do Congresso deve ganhar impulso e as discussões da desoneração da folha de pagamento devem ser retomadas. Há também a expectativa de avanço da proposta de renegociação da dívida de estados com o Governo Federal. A semana começa com a divulgação do Relatório Focus, do Banco Central, com a interpretação de mais de 100 agentes financeiros nacionais.
Para Leandro Manzoni, analista do Investing.com, a diminuição da incerteza deve ficar na interpretação do Copom em relação às variáveis internas que impactam na inflação, pois a narrativa no exterior de trajetória da economia dos EUA teve mudanças, de um pouso suave para uma aterrissagem forçada com maior risco de recessão. “A ata do Copom provavelmente terá um tom mais duro do que o comunicado da reunião que manteve a taxa Selic em 10,5% na última quarta-feira, 31. O investidor deve se perguntar ao lê-la: há elementos suficientes para que o Copom eleve a taxa Selic em setembro ou até o fim de 2024?”
Apesar de o comunicado ter sido duro, muitos analistas do mercado apontam que não ficou explícita a possibilidade de alta de juros. Mas, a inclusão de novos trechos, que apontam os motivos da deterioração das expectativas de inflação, são o suficiente para que o Copom esteja comprometido com a perseguição do centro da meta de 3% ao ano, com a ata podendo satisfazer os desapontados com o comunicado. Analistas projetam uma elevação de 0,23% no mês.
O Copom precisa, no entendimento de Manzoni, explicar os motivos da classificação de simétrico do balanço de risco mesmo com mais fatores para a alta da inflação. Os novos trechos inseridos no comunicado podem provavelmente trazer uma interpretação mais dura sobre a atividade econômica e mercado de trabalho mais dinâmico do que o esperado, o desequilíbrio fiscal com projeção de déficit primário acima do piso da meta fiscal e a valorização do dólar, que acabam as projeções de inflação para 2024 e 2025 e a deterioração das expectativas.
A alta do dólar, inclusive refletida na taxa de câmbio do cenário de referência, que passou de R$ 5,30 para R$ 5,55, pode ter uma avaliação especial, já que este foi o novo fator no balanço de risco para a elevação da inflação. “Além de ser reflexo da desconfiança do mercado em relação à execução de uma política fiscal que equilibra a trajetória da dívida, a valorização da moeda americana deve receber uma interpretação do Copom de como ela é impactada pela menor sincronia entre as políticas monetárias dos principais Bancos Centrais de economias desenvolvidas”, comenta o analista da Investing.com.
A elevação da taxa de juros no Japão acabou levando à desvalorização do real devido ao encerramento de operações de carry trade por investidores estrangeiros, que aproveitavam os juros baixos na economia asiática para aplicar em países, como o Brasil, onde os juros são maiores. Com a alta de juros no Japão, as operações passam a ter prejuízo e, com isso, são encerradas, impactando na cotação do dólar ante o real.