Endividamento cai pela primeira vez desde fevereiro, diz CNC

Melhora do mercado de crédito provoca aumento do financiamento imobiliário

O objetivo do PL é a incorporação desses valores pelo Tesouro Nacional após 30 dias da publicação da lei | Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil / CP

Pela primeira vez desde fevereiro deste ano, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), e divulgada nesta quinta-feira, 1º, apontou redução do endividamento da população brasileira. O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer diminuiu para 78,5% em julho de 2024, 0,3 ponto percentual abaixo do resultado de junho. No entanto, o indicador ainda está acima do registrado em julho do ano passado, quando o endividamento era de 78,1%.

O resultado revela que as famílias estão mais cautelosas, já que houve estabilidade no indicador, no mês passado. O cartão de crédito é a principal modalidade de dívida, utilizado por 86% do total de devedores. Mas o maior crescimento ficou por conta do financiamento imobiliário, com incremento de 1,4 ponto percentual no ano, resultado do mercado de crédito com juros mais acessíveis. Esse foi o maior percentual desse tipo de dívida (9,1%) desde fevereiro de 2022.

A queda do endividamento geral foi influenciada pelas mulheres, cujo nível teve retração de 0,8 p.p. em relação ao mês anterior e se manteve igual a julho do ano passado, enquanto os homens mantiveram suas dívidas estáveis no comparativo com junho e 0,8 ponto percentual acima do registrado no mesmo mês de 2023. O presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, avalia que o endividamento não é, em si, um sinal negativo.

“Ele pode refletir maior acesso a recursos financeiros para consumir, aquecendo o comércio e, consecutivamente, a economia brasileira”, ressalta. No entanto, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF, também apurada pela CNC) de julho caiu 0,2%, demonstrando movimentos cautelosos entre os brasileiros. “A preocupação começa quando o consumidor perde a capacidade de pagar as dívidas em dia e acaba sem acesso a linhas de crédito, além de enfrentar altas taxas de juros que o descapitalizam ainda mais”, alerta Tadros.

FREIO

A inadimplência se manteve estável em julho, no comparativo com junho, no patamar de 28,8%, e caiu 0,8 ponto percentual na variação anual. Aliado a isso, a Peic demonstra que o percentual de famílias que não terão condições de pagar as dívidas em atraso recuou para 11,9%, 0,1 ponto percentual a menos que no mês passado e 0,3 ponto percentual em relação a julho de 2023. Já o percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias teve um incremento de 0,3 ponto percentual em relação ao mês anterior, chegando a 47,9% do total de endividados em julho deste ano, o maior desde novembro de 2023.

Para o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, a estabilização no percentual de famílias com dívidas atrasadas e a ligeira queda do percentual daquelas sem condições de pagar seus débitos indicam uma leve melhora das finanças familiares. “Outro ponto positivo é que as famílias estão comprometendo uma porcentagem cada vez menor da sua renda em pagamento de dívidas. A média da renda comprometida com dívidas foi de 29,6% em julho, sendo o quinto mês com retração nesse nível”, explica Tavares.

Projeções da CNC revelam que o endividamento deve cair mais nos próximos dois meses, para voltar a subir na reta final do ano. A taxa esperada pela Confederação é de 78,4% em dezembro. Já a inadimplência tende a aumentar gradativamente até atingir 29,5% no fim do ano.