O mercado financeiro brasileiro fechou o movimento desta terça-feira, 30, de olho no que será divulgado pelos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos hoje. O dólar à vista fechou perto da estabilidade com investidores a espera das decisões sobre juros. O dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 5,61 na venda, em baixa de 0,15%. No mês a divisa acumula alta de 0,52%.
Já o Ibovespa fechou com as ações da Vale e da Petrobras respondendo pelas maiores pressões de baixa na esteira da queda do minério de ferro e do petróleo no exterior, em pregão também marcado por cautela antes de decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos. O indicador cedeu 0,64%, a 126.139,21 pontos, com o volume financeiro somando R$ 17 bilhões.
A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central termina nesta quarta-feira, 31, depois de dois dias de debate para definir o patamar da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic). Com expectativa de juros no mesmo patamar até o final do ano, as atenções dos investidores estarão nos indicativos de que há compromisso com a ancoragem das expectativas e ao cumprimento das metas inflacionárias.
“O mercado precifica ou manutenção ou uma possível alta, mas ainda com mais tendência pela manutenção”, destaca Felipe Uchida, head do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital. A Equus Capital elabora semanalmente o Índice Equus de Precificação da Selic (IEPS), utilizando Inteligência Artificial para coletar e analisar dados, indicando uma probabilidade de manutenção de 92,1%.
O fator de maior preocupação dos participantes do colegiado é a desancoragem das expectativas inflacionárias, segundo Jose Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator. “O que eles têm feito é tentar passar a convicção de que eles vão fazer o necessário para levar a inflação à meta. Acho que isso não implica em um sinal agora de que existe viés para cima na taxa de juros”, considera Gonçalves, que espera que a comunicação deixe em aberto possíveis mudanças no entendimento do colegiado. Eventuais alterações no balanço de riscos tendem a vir somente na ata, se for o caso, e a retomada do ciclo de cortes só deve ser retomada pela autoridade monetária no segundo semestre do ano que vem, em sua opinião.
AMBIENTE ADVERSO
Um ambiente global mais adverso e deterioração do cenário para a inflação devem influenciar a decisão do colegiado, avalia Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas, que enxerga manutenção na Selic, diante de dados de atividade fortes, especialmente no mercado de trabalho. A economista concorda que a deterioração das expectativas inflacionárias preocupa, principalmente num contexto de depreciação da taxa de câmbio.
O patamar do câmbio é um dos principais motivos de pressão nas estimativas inflacionárias do Banco Central e faz com que a discussão sobre eventual reversão do ciclo, com alta na Selic, não seja descartada, acredita a economista-chefe da Principal Claritas. “É importante ressaltar que, mesmo que o Copom não dê sinais sobre subir os juros ou estar propício a fazer isso, se o câmbio permanecer nesse patamar e não tiver um alívio, naturalmente essa discussão continuará ganhando força”.
Como na última reunião o dólar estava mais baixo, mas agora acima de R$5,60, Alex Martins, analista do TC, entende que o Copom pode revisar a projeção da moeda americana em seu cenário-base, impactando as estimativas de inflação deste e do próximo ano. O analista entende que já existem componentes para precificar uma alta da Selic, considerando modelos que estimam um dólar mais alto, e que o BC deveria sinalizar na próxima reunião a respeito sobre o assunto. No entanto, diz ser pouco provável que o BC suba os juros nesse ano, diante de um possível corte nas fed funds americanas.