Confiança do varejo cai pelo terceiro mês consecutivo, diz CNC

Queda apresentada pelo Icec no Rio Grande do Sul continuou em julho (houve redução de 5,8%)

Foto: Alex Rocha/PMPA

O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), marcou 107,4 pontos em julho, uma retração de 0,7% em relação a junho. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira, 24, e foi a terceira queda consecutiva, descontados os efeitos sazonais. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o índice também apresentou queda de 0,1%.

A queda apresentada pelo Icec no Rio Grande do Sul continuou em julho (houve redução de 5,8%), mas apresentou melhora em relação à queda do mês passado, o ápice dos problemas climáticos naquele Estado, quando a diminuição do índice chegou a 8,1%. O indicador alcançou 89,8 pontos, o menor nível desde setembro de 2020, durante a pandemia de covid-19.

O maior impacto foi nas intenções de investimentos, subindicador que apresentou a maior queda mensal, de 9%. Além disso, a expectativa sobre a economia voltou ao nível de insatisfação, aos 98 pontos em julho contra 101,4 pontos em junho. Essa marca não era ultrapassada desde agosto de 2020.

Apesar de o subindicador de condições atuais – que avalia a economia, o comércio e a empresa – ter recuado 0,1% pelo terceiro mês consecutivo, o principal destaque positivo foi o aumento de 1,2% na confiança dos comerciantes em relação às condições atuais de suas empresas, retornando o indicador para um nível de satisfação, aos 100,4 pontos. Esse aumento reflete um entusiasmo renovado dos empresários em relação ao varejo, impulsionado por indicadores de crescimento do comércio, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No entanto, a previsão de desaceleração da economia projetada pelo Banco Central é um fator importante na análise do cenário futuro, conforme aponta o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros. “Estamos atentos a uma provável desaceleração do crescimento, com nossa projeção de 1,95%, pois esse é um ponto crítico, influenciado por juros altos, endividamento das famílias e risco fiscal”, afirma Tadros.

Os consumidores confirmama percepção dos empresários. A pesquisa Intenção de Consumo das Famílias (ICF) da CNC revelou uma queda de 0,2% em julho, indicando uma piora na percepção do mercado de trabalho atual e para os próximos meses.

BAIXA EXPECTATIVA

Julho apresentou a terceira queda mensal consecutiva do subindicador de expectativas – em relação à economia, ao setor e à empresa. A redução foi de 1,1%, na comparação com junho, e de 0,8%, na variação de 12 meses. Conforme o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, a taxa reflete a dificuldade que os empresários acreditam que enfrentarão nos próximos meses. A expectativa em relação à economia apresentou a maior queda, com redução de 1,3%, na comparação mensal, e de 2,3%, na comparação anual.

Com o mercado de crédito desafiador e a percepção negativa das condições atuais, o indicador de intenção de investimentos também apresentou queda, com redução de 0,8%, na comparação mensal. Entre os subindicadores que compõem esse indicador, a intenção de investir na empresa caiu 1,6%, mostrando uma redução da disposição dos comerciantes de continuar investindo para alavancar seus negócios.

“A inflação ainda é um ponto de preocupação, mesmo com a recente queda dos índices. A CNC espera que ela fique em torno de 4,1% ao fim de 2024, acima da meta de 3%”, avalia Felipe Tavares. O economista-chefe da CNC lembra que a guerra na Ucrânia, os preços das commodities e a desvalorização do real podem pressionar os preços internos nos próximos meses.

PESSIMISMO

A queda da confiança do empresário do comércio em julho foi impulsionada pelo pessimismo dos lojistas de bens semiduráveis, como roupas, calçados, tecidos e acessórios (redução de 2%). Já a confiança do comércio de produtos de primeira necessidade (supermercados, farmácias e perfumarias) recuou 0,5% este mês. A intenção de contratação de novos funcionários foi o item que mais pesou entre os comerciantes de bens semiduráveis (houve queda de 3,9%). Esse é o segmento que mais impactará o mercado de trabalho, apesar de os outros também apresentarem queda nesse item.

Para os empresários de bens duráveis, assim como para os de não duráveis, o momento atual para a economia também foi o indicador de maior queda (redução de 2,4%), confirmando que a maior cautela com a economia abrange a maioria dos grupos do comércio. O destaque positivo foi o aumento de 1,5% na intenção de investimento em estoques de produtos duráveis – especialmente por ser o ramo que mais precisa ajustar seus estoques, já que são itens de alto valor agregado e geram maior prejuízo ao ficarem parados nos estabelecimentos.