A quase totalidad (95%) dos municípios gaúchos, cerca de 2,5 milhões de pessoas afetadas diretamente e mais de 600 mil desabrigadas. Os números da catástrofe climática levantados pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul impressionam. Mas a dúvida é sobre o impacto das cheias. O Comitê Científico de Emergência Climática da Aliança para Inovação, coordenado por Silvio Bitencourt da Silva, da Unisinos, e Benamy Turkienicz, da UFRGS, acaba de apresentar um estudo abrangente sobre as devastadoras inundações ocorridas no Rio Grande do Sul em maio deste ano. O evento, caracterizado como uma das piores inundações da história do Estado, resultou em impactos sociais, econômicos e ambientais expressivos.
De acordo com o estudo, o estado foi severamente atingido por chuvas torrenciais, provocadas por um sistema de baixa pressão estacionário, gerando transbordamento de rios, deslizamentos de terra e inundações severas em áreas urbanas e rurais. Ele aponta ainda que as características da ocupação urbana ao longo das bacias hidrográficas, somadas ao subdimensionamento dos sistemas de proteção e escoamento de águas pluviais, exacerbaram a gravidade dos danos.
“Os impactos das inundações foram devastadores, atingindo principalmente as cidades de Porto Alegre, Santa Maria e Pelotas. Mais de uma centena de vidas foram perdidas, milhares de pessoas ficaram desalojadas e diversas infraestruturas essenciais, como água tratada, energia, telefonia e saúde, foram severamente comprometidas”, relembra Tatiana Silva da Silva, professora da UFRGS.
Conforme os pesquisadores, a crise também expôs a limitada capacidade de resposta das unidades de Defesa Civil e outros serviços públicos essenciais.
PERSPECTIVAS
A partir da identificação dos problemas gerados pela catástrofe climática, o Comitê sublinha a urgência de uma abordagem integrada para a gestão de desastres no Estado. Entre as recomendações, estão a implementação de medidas estruturais e não estruturais; a avaliação e implementação de sistemas de pagamento por serviços ambientais; regulamentações de ordenamento territorial; sistemas de monitoramento e alerta, educação e comunicação e planos de contingência.
O estudo também destaca a importância de considerar dimensões transversais, como conservação ambiental, aspectos jurídicos-institucionais, comunicação social, inovação tecnológica e a integração de comunidades tradicionais nas estratégias de gestão de desastres.
“Novas crises podem ser evitadas a partir de uma estratégia alinhada e responsável, que promova a ordenação de recursos e pessoas em torno do nosso objetivo comum. A soma dos conhecimentos da UFRGS, PUCRS e Unisinos torna-se um instrumento poderoso para a promoção da resiliência e da sustentabilidade do Rio Grande do Sul”, finaliza o coordenador do Comitê, Silvio Bitencourt da Silva.