O ex-CEO das Lojas Americanas Miguel Gutierrez foi preso nesta sexta-feira (28) em Madri, capital da Espanha. A informação foi confirmada pela reportagem com fontes da Polícia Federal. O empresário, considerado até então foragido, havia sido incluído na lista de Difusão Vermelha da Interpol.
As investigações apontam que ex-membros da diretoria da rede venderam R$ 287 milhões em ações antes que fosse anunciado, em janeiro do ano passado, o rombo de R$ 25,3 bilhões no balanço da empresa devido a “inconsistências contábeis”. A descoberta levou ao enquadramento dos ex-executivos por crime de uso de informações privilegiadas, além de outros delitos sob suspeita na Operação Disclosure.
Na última quinta-feira (27), a Polícia Federal deflagrou a ação que investiga supostos crimes contra o mercado financeiro e organização criminosa cometidos por ex-diretores e ex-executivos das Lojas Americanas. Entre os alvos, além de Gutierrez, estão a ex-diretora Anna Saicali e o ex-CEO João Guerra Duarte Neto.
Na ação desta quinta, cerca de 80 policiais federais cumprem dois mandados de prisão preventiva e 15 mandados de busca e apreensão nas residências dos ex-executivos das Americanas, localizadas no Rio de Janeiro. Os crimes investigados são manipulação de mercado e uso de informação privilegiada.
Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Segundo a decisão judicial, a PF atribui aos investigados “manobras fraudulentas” destinadas a alterar “os resultados reais da empresa, para receber vantagens indevidas com o pagamento de bônus por metas atingidas”.
Gutierrez se mudou para Madri durante o inquérito que apura a fraude contábil de R$ 25 bilhões na companhia que comandou. Um inquérito interno da Americanas revelou que o ex-executivo foi o mentor do esquema criminoso. Membros da diretoria teriam falsificado contratos publicitários e ocultado empréstimos, de forma a maquiar os balanços da empresa e aumentar os seus próprios bônus.
Assim que o rombo foi descoberto, a varejista se viu obrigada a pedir recuperação judicial, para reestruturar as dívidas com credores. As investigações foram abastecidas pelas delações premiadas dos ex-diretores Marcelo da Silva Nunes e Flávia Pereira Carneiro Mota. Eles contaram que as fraudes se iniciavam com o preparo, pela equipe de relações com investidores, de um arquivo chamado “verdes e vermelhos”, que fazia parte de um “kit de fechamento trimestral”. Nele, constava a expectativa de crescimento por parte de analistas de mercado. Segundo as delações, quando elas não eram atingidas, a diretoria mudava os resultados “para não frustrar as expectativas de mercado”.