A primeira reunião-almoço da Federasul, realizada neste quarta-feira, 12, no Palácio do Comércio serviu para elevar o tom das críticas feitas por entidades empresariais em relação a atuação do Governo Federal no socorro ao Rio Grande do Sul. E a primeira manifestação veio do presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa. Segundo ele, a sociedade brasileira acompanhou ao longo de alguns anos o socorro oferecido por diferentes gestões com recursos a fundo perdido para países que precisavam de ajuda no momento.
“Não estamos enxergando a mesma cooperação com um estado como o Rio Grande do Sul. Precisamos de dinheiro novo, a fundo perdido, para encontrar soluções que não desempreguem e que mantenham talentos em solo gaúcho”, comenta Costa.
Aplaudido de pé pelos participantes pelo tom mais áspero de seu discurso, Rodrigo Sousa Costa insistiu que o Governo Federal está ajudando o estado com o dinheiro que já é gaúcho, repassado ao longo dos anos para para os cofres oficiais. “Temos que ter a consciência de quem são as vítimas desta crise. Precisamos evitar uma onda de demissões, que na verdade já estão acontecendo na prática”, diz.
A Federasul, aliás, esta procurando identificar junto à gestores de RH qual o cenário de demissões e fechamento de vagas em seus segmentos.
CENÁRIOS
O encontro teve a participação dos economistas Oscar Frank, da CDL Porto Alegre, Antônio da Luz, da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Lucas Schifino, da Fecomércio-RS e Giovani Baggio, da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). O economista da Farsul destacou que o Rio Grande do Sul precisava muito mais que o R$ 1 bilhão do Pronampe.
“Não é falta de dinheiro. É falta de foco. Para um produto como o arroz, os leilões propostos pelo governo destinaram mais de R$ 7 bilhões. Prova que os gastos tem sido volumosos para outras áreas mas não para o Rio Grande do Sul”, comenta da Luz.
Schifino, da Fecomércio-RS, engrossou as críticas e destacou que o setor esperava mais do governo. A estimativa das micro e pequenas empresas, juntos com as grandes corporações, é de um prejuízo patrimonial de R$ 20 bilhões. “Os recursos para as empresas foram seletivos e se esgotaram rapidamente. Quem mais precisava ficou sem dinheiro necessário”, lembrou.
Frank ressaltou a dificuldade de traçar o tamanho da crise no estado pois os parâmetros não tem precedentes. Mas reforçou que há necessidade de adaptação das regras trabalhistas para preservar empregos. “Algumas medidas adotadas durante a pandemia poderiam ser retomadas e não foram”, disse.
Dados setoriais apresentados pelo economista da CDL Porto Alegre aponta uma queda de 15,7% no volume de negócios no período entre 29 de abril e 5 de maio no estado, percentual que chegou a 17,4% de recuo em Porto Alegre, e 27,8% nas 30 cidades gaúchas mais impactados. Somente nos primeiros dias de maio o prejuízo no comércio ampliado da capital encosta nos R$ 500 milhões.
Já o economista da Unidade de Estudos Econômicos da Fiergs apresentou o resumo de um estudo de grandes e médias empresas onde 79% foram muito ou pouco afetadas pelas cheias. Conforme Baggio, 64,2% admitiu que vai investir no mesmo local onde estava instalada, enquanto 20% ainda não decidiu. Já 5% vão investir no mesmo município mas em outro local.
“Precisamos de recursos para as empresas continuarem operando. Só assim teremos a preservação do emprego”, comentou.