Passados exatos 30 dias do início dos episódios de chuvas volumosas, o saldo no Estado é o da maior catástrofe climática já registrada no Rio Grande do Sul. Conforme a Defesa Civil Estadual, até o final da tarde de terça-feira (28), ao menos 169 pessoas perderam a vida em decorrência de alagamentos, deslizamentos e descargas elétricas, dentre outras ocorrências relacionadas às chuvas. Além disso, mais de 800 pessoas ficaram feridas, enquanto outras 53 seguem desaparecidas.
Entre os 497 municípios do Estado, ao menos 469 tiveram algum tipo de transtorno em decorrência das chuvas, resultando em 2,3 milhões de pessoas diretamente afetadas. Até o início da semana, pelo menos 630 mil gaúchos seguiam fora de suas casas, sendo 48,7 mil em abrigos e 581,6 mil desalojados.
O rastro de destruição se espalhou por diversas regiões do Estado. Em várias delas, as maiores enchentes, deslizamentos e demais estragos foram os maiores da história. Nos vales de rios como Taquari, Pardo, Jacuí, Caí, Paranhana, Sinos e Gravataí, assim como nas cidades banhadas pelo Guaíba e pela Lagoa dos Patos, ficaram concentrados a maioria dos afetados por alagamentos.
Nas demais áreas do Estado, quedas de rodovias e demais estragos deixaram localidades isoladas e o acesso dificultado em centenas de municípios. A seguir, confira como está a situação de alguns dos principais municípios atingidos pelas enchentes, em diferentes regiões, um mês após os primeiros transtornos:
Lajeado
De acordo com o prefeito de Lajeado, no Vale do Taquari, Marcelo Caumo, três grandes problemas ainda são encontrados na cidade. São eles a limpeza, a ligação viária e a situação dos desabrigados. “A limpeza, que é o mais simples dos problemas, está em andamento e uma boa parte já foi feita. Muitos municípios auxiliaram com caminhões e maquinários. Então, é um longo trabalho ainda pela frente, mas ele está avançando bem”, explica.
Caumo relata que, na questão das ligações viárias, há um grande desafio. “Temos a ligação de Lajeado e Arroio do Meio, da parte baixa com a parte alta do Vale, como um desafio, porque as duas pontes, tanto a da RS 130 quanto a ligação principal que existia, elas foram levadas pelas armas. Mas passados mais de 25 dias, para conseguir retornar essa ligação, elas estão em execução. Então é aguardar o tempo necessário para que elas possam ser concluídas. Esse acesso é fundamental para que vários municípios da região possam receber insumos e donativos”, relata.
Já em relação aos desabrigados, pessoas que perderam suas casas, o prefeito considera o maior desafio da Prefeitura. “Não só em Lajeado, mas de todo o RS, o processo está muito trancado e burocratizado. Muito demorado. Eu acredito que a gente vai conseguir fazer algumas entregas antes de outros municípios porque está nesse processo iniciado em setembro de 2023. Então se passaram oito meses e a gente não conseguiu ainda colocar um tijolo para a construção das casas e não houve grande avanço nessa enchente de 2024. Esse é um desafio para o Estado e para a União simplificar esse processo, senão as pessoas vão sofrer demais”, afirma Caumo.
Ainda segundo o prefeito, em torno de 15% da cidade foi atingida pela enchente e cerca de 1300 estão desabrigadas, enquanto o número de desalojados é considerado muito maior. “As pessoas acabam indo pra casa de parentes e amigos. E essa é uma enchente que pegou, tanto as pessoas de uma classe social mais baixa, quanto uma parcela significativa de uma classe média que, apesar da dificuldade, tem uma facilidade maior do que os demais”, conclui.
Conforme a Defesa Civil, duas pessoas morreram em decorrência das enchentes na cidade. Outras cinco pessoas seguiam desaparecidas, até o final da tarde de ontem.
Caxias do Sul
Diferentemente de algumas regiões que sofreram com enchentes, Caxias do Sul, na Serra, também enfrentou outros desafios decorrentes das chuvas intensas. Segundo o prefeito Adiló Didomenico, embora a área urbana não tenha sido severamente impactada por alagamentos, dois loteamentos ficaram isolados.
A cidade implementou uma série de medidas ao longo dos anos que ajudou a mitigar os danos na área urbana. No entanto, a situação no interior do município foi muito grave. “A subprefeitura de Vila Cristina ficou embaixo da água, a UBS, toda frota de caminhão e máquinas, que até agora a gente não conseguiu recuperar nada,” relata. Além disso, segundo o prefeito, praticamente todas as pontes e pontilhões foram destruídos no interior do município. “Não sei se sobrou algum intacto. Foi uma destruição completa”, acrescentou.