O setor de bares e restaurantes no Rio Grande do Sul enfrenta uma crise sem precedentes, exacerbada pelas recentes enchentes que devastaram a região. Este cenário é particularmente alarmante para aqueles estabelecimentos que ainda carregam dívidas adquiridas durante a pandemia. Pesquisa realizada pela Abrasel ouviu 386 proprietários de bares e restaurantes no estado entre os dias 14 e 19 de maio, e os resultados são profundamente preocupantes.
A quase totalidade dos estabelecimentos viu cair o faturamento: 94% disseram estar hoje com problemas no movimento, apesar de 65% estarem de portas abertas, mesmo com restrição de insumos básicos. Mais da metade (55%) enfrenta problemas com fornecimento de água e 33% não têm energia elétrica. Quase todos – 99% do total – sinalizaram que estão enfrentando algum tipo de problema para conseguir insumos, como alimentos e bebidas, para trabalhar. E dois terços (66%) disseram estar enfrentando aumentos extraordinários nos preços dos insumos.
Embora menos de um quarto (23%) tenham sido totalmente ou parcialmente atingidos de modo direto pelas enchentes, 41% apontaram que o estabelecimento está ilhado, impedindo o fluxo normal de clientes – destes, 22% estão totalmente ilhados e 19% sofrem com bloqueios que interferem no acesso de consumidores. E cerca de 30% dos empregados, em média, foram atingidos de modo direto pelos alagamentos.
PÓS-PANDEMIA
As enchentes não só agravaram a vulnerabilidade financeira desses negócios, mas também interromperam a já frágil recuperação pós-pandemia. O fechamento de estradas e a destruição de infraestrutura limitaram severamente o acesso a insumos essenciais e a chegada de clientes, fundamentais para a sobrevivência dessas empresas. Com a cadeia de fornecimento interrompida e as dívidas se acumulando, muitos estabelecimentos estão à beira do colapso. Segundo uma pesquisa realizada pela Abrasel em março deste ano, 47% das empresas do setor já operavam no vermelho, enquanto 40% relataram ter dívidas em atraso com impostos e fornecedores.
A situação é crítica e requer uma resposta efetiva e organizada. “Precisamos dizer que vai levar tempo para a recomposição não só do setor, mas da economia do estado. Vamos trabalhar para que os estabelecimentos possam manter as portas abertas, salvando empregos e empreendimentos que são resultados de anos de trabalho duro dos seus proprietários. A Abrasel não irá descansar no trabalho de costurar medidas, acordos e iniciativas que ajudem o Rio Grande do Sul. Esse trabalho começou já nos primeiros dias das cheias e vai continuar, não iremos esmorecer”, afirma o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci.
“O primeiro passo é ouvir os empresários, analisar suas dificuldades e necessidades. Além da pesquisa, estamos preparando uma plataforma para que este acompanhamento seja feito de perto, pois cada empresa tem um perfil diverso e foi atingida de modo diferente. Dentro da mesma cidade, como Porto Alegre, você tem tanto estabelecimentos que perderam tudo, como alguns que não foram afetados pela cheia, mas vão precisar reconquistar faturamento e cobrir os prejuízos dos dias fechados. E outras regiões podem ter dificuldades específicas que precisam ser mapeadas. Entendendo melhor e a fundo as necessidades em comum e as particularidades podemos ser muito mais assertivos na ajuda. Já estamos preparados para manter esse trabalho nos próximos dois anos, que é o tempo mínimo, segundo nossa estimativa, para garantir que as empresas voltem a operar e a ter movimento capaz de trazer sustentabilidade financeira”, completa Solmucci.