O anúncio na página da Pousada Garoa na internet promete aluguel de quarto de forma prática e sem burocracia. O slogan comercial é “Basta pagar e morar!”. A estratégia foca em mulheres e homens solteiros em busca de residências com valores populares e localizadas em pontos estratégicos de Porto Alegre. Na prática, a proposta atrai turistas, viajantes desavisados e estudantes com poucos recursos.
A propaganda no site apresenta quartos pequenos e simples, porém limpos e organizados. Todos os dormitórios mostrados em imagens são arejados, contam com iluminação natural e mobiliados com cama, colchão e roupeiro. Por um preço único é garantido ao locatário o direito a utilizar cozinha e banheiro compartilhado. Luz, água, gás, internet wifi e máquina de lavar roupas estão inclusos no baixo valor mensal – a partir de R$ 550. A maioria das vagas disponíveis neste custo está localizada nas zonas Leste, Norte e na área central da Capital.
A administração do empreendimento mantém endereços nos bairros São João, Floresta, São Geraldo, Partenon, Nonoai, Santana, Cidade Baixa, Jardim Itu e Centro Histórico. Ao menos três destes guardam familiaridade com o prédio destruído pelo fogo hoje.
A realidade das instalações, contudo, está bem distante da propaganda feita nos ambientes digitais e foi conferida de perto pelo Correio do Povo na tarde desta sexta-feira, horas após o incêndio na unidade da avenida Farrapos.
Como é se hospedar em uma pousada Garoa
Na rua Sete de Setembro, no Centro Histórico, a pesada porta de aço do prédio de quatro andares, que um dia foi branca, apresenta chapas de metal amassadas, indicando que podem ter sido forçadas em um passado próximo. Na marquise que cobre a calçada, uma câmera de vigilância dá a entender que a entrada é – ou que ao menos um dia já foi – monitorada. O meio de contato com o interior é uma discreta campainha, no lado esquerdo da passagem, que apesar de acionada de maneira insistente, não ofereceu resultado. A resposta veio após o emprego de algumas batidas.
Um homem, com barba e cabelos grisalhos, surge à porta. Pela abertura é possível perceber um longo corredor, com aproximadamente 10 metros, em alvenaria, pouca iluminação e dois tons de tinta já desgastados. Um extintor de incêndio é visível próximo da entrada.
O tal senhor logo sai e tranca a passagem, informa não ser o responsável pelo local, porém avisa que não há vagas disponíveis. A recomendação é voltar mais tarde.
Do lado de fora, pelas janelas de vidro, é possível ver divisórias em madeira, nos mesmos moldes das estruturas que pegaram fogo no bairro Floresta. Em uma das aberturas havia luz acesa e uma pessoa realizando atividades domésticas.
Como é se hospedar em uma pousada Garoa
Na rua Sete de Setembro, no Centro Histórico, a pesada porta de aço do prédio de quatro andares, que um dia foi branca, apresenta chapas de metal amassadas, indicando que podem ter sido forçadas em um passado próximo. Na marquise que cobre a calçada, uma câmera de vigilância dá a entender que a entrada é – ou que ao menos um dia já foi – monitorada. O meio de contato com o interior é uma discreta campainha, no lado esquerdo da passagem, que apesar de acionada de maneira insistente, não ofereceu resultado. A resposta veio após o emprego de algumas batidas.
Um homem, com barba e cabelos grisalhos, surge à porta. Pela abertura é possível perceber um longo corredor, com aproximadamente 10 metros, em alvenaria, pouca iluminação e dois tons de tinta já desgastados. Um extintor de incêndio é visível próximo da entrada.
O tal senhor logo sai e tranca a passagem, informa não ser o responsável pelo local, porém avisa que não há vagas disponíveis. A recomendação é voltar mais tarde.
Do lado de fora, pelas janelas de vidro, é possível ver divisórias em madeira, nos mesmos moldes das estruturas que pegaram fogo no bairro Floresta. Em uma das aberturas havia luz acesa e uma pessoa realizando atividades domésticas.
Logo na porta, um idoso conversa com uma mulher jovem, de origem latina, como sugeriu o sotaque. Os dois dão lado para uma senhora que entra com uma sacola com roupas e um ventilador, levados em doação. Instantes depois, chegam três homens, alegadas vítimas do incêndio da Farrapos. Eles revelam que os moradores que não ficaram feridos foram orientados a buscar abrigo no local.
“Tem muito estrangeiro aqui. Eles chegam por indicação, só sabem como é lá dentro depois que pagam”, revela um morador que prefere não ser identificado. Ele não quis contar quanto paga por mês ou como é feito o acerto financeiro.
Na sequência, um grupo de mulheres com jalecos azuis com logomarca da Prefeitura de Porto Alegre e do Sistema Único de Saúde (SUS) deixa o prédio. Não deram informações, porém moradores afirmaram que as servidoras estavam lá prestando assistência em saúde, o que ocorre com frequência. Ninguém confirmou se neste endereço estão alojadas pessoas em vulnerabilidade social, em vagas conveniadas pela administração do município, assim como ocorria na unidade destruída pelo fogo.
A parte interna lembra um cativeiro. Um longo corredor leva da porta principal até os fundos, onde há uma cozinha em condições precárias. O chão é encardido, não há janelas e um forte cheiro de mofo impregna o ar. Praticamente uma ao lado da outra, dezenas de portas com cadeados formam uma trilha de quartos muito pequenos, cubículos onde cabem apenas camas de solteiro e um armário pequeno. Todas as paredes são feitas em madeira, nenhum possui janela.
Próximo da cozinha, que também abriga uma máquina de lavar roupas, há um banheiro – o único à vista no andar. As condições também não são adequadas, faltam azulejos, a caixa de descarga está presa por arames e a fiação elétrica está solta da parede.
Entre os dormitórios, uma escada leva a um pavimento no subsolo. O andar aparenta estar desativado, e nele estão pilhas de madeira e tijolos. Nos dormitórios restam camas quebradas, colchões e lixo. Um suporte na parede que deveria acomodar um extintor de incêndio serve para sustentar varais usados na secagem de roupas.
Extintores vencidos e com lacres rompidos
Apenas três extintores de incêndio foram encontrados nos dois pavimentos inferiores. As garrafas estavam juntas, no patamar da escada que leva ao subsolo. Todas vazias, como afirmam os mostradores, com ponteiros na posição “recarga”, e lacres rompidos. Ineficazes, portanto, para combater incêndio em um ambiente com diversos materiais potencialmente inflamáveis e dezenas de vidas humanas à mercê da própria sorte.
Não foi possível acessar os demais pavimentos do prédio, contudo, o relato de moradores do local é de que não existem extintores de incêndio disponíveis.
“As condições são precárias. Nos obrigamos a viver em risco, pois é isso aqui ou ir para a rua”, desabafa um dos residentes. Há seis meses no local, homem que veio de Seberi, no interior, para tentar dias melhores na capital do Rio Grande do Sul, agora diz temer, além de ratos que circulam pelo prédio, o perigo de incêndio. “É algo que não pensamos, vamos sobrevivendo, um dia de cada vez, mas quando acontece bem do lado da gente, muda de figura. Se pudesse, iria embora daqui hoje mesmo.”