O calendário para as eleições de 2024 mal começou e faltam ainda seis meses para o pleito no qual serão eleitos prefeitos, vices e vereadores. Mas, no RS, o que já se precipita é uma sucessão de articulações para a disputa de 2026 ao governo do Estado. Nomes, possibilidades de composição e projeções de movimentos de adversários, internos ou externos, dominam os debates nos partidos, de tal forma que impactam até as negociações entre as siglas para as eleições deste ano.
Entre as principais legendas, pelo menos seis nomes já são colocados abertamente para a sucessão do governador Eduardo Leite (PSDB). São eles os dos emedebistas Gabriel Souza, atual vice-governador, e Sebastião Melo, prefeito da Capital que agora disputará a reeleição. Os dos petistas Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edegar Pretto, presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e Pepe Vargas, deputado estadual. E o do deputado federal e presidente do PL de Porto Alegre, Luciano Zucco.
No MDB, a campanha para 2026 ficou ainda mais evidente na convenção estadual do último dia 23. O tema foi pano de fundo dos discursos. O novo presidente do diretório gaúcho, o deputado Vilmar Zanchin, não nega a antecipação, admite que a discussão deve se intensificar tão logo sejam conhecidos os resultados do pleito municipal e repete publicamente que, apesar de Gabriel ser o candidato ‘natural’, há outras lideranças, e a escolha é um processo a ser construído.
No PT os três nomes estão “dados” e a ideia é que a definição entre eles ocorra, pelo menos para consumo interno, no período da troca do comando partidário, em 2025. O líder da bancada do partido na Assembleia, deputado Luiz Fernando Mainardi, diz que a discussão do tema neste momento é completamente “extemporânea”, e que não está sendo feita pela sigla. Admite, porém, que, como em 2026, além da vaga de governador, estarão em disputa duas ao Senado: “Provavelmente o ministro Pimenta e o Edegar serão nossos dois nomes. Mas, repito, isto não está em debate agora. O foco são as eleições municipais.”
No PL, a antecipação foi um dos fatores geradores da crise que expôs a divisão do partido entre dois grupos principais no RS (um oriundo do DEM e outro do PSL), resultou na saída do vice-prefeito da Capital, Ricardo Gomes, da sigla, na troca de comando em nove cidades e na indefinição sobre apresentar candidatura própria ou não em Porto Alegre. Zucco trabalha para ser o nome do partido ao governo. Ainda não há clareza, contudo, sobre os movimentos a serem feitos pela ala liderada pelo ex-ministro Onyx Lorenzoni, que concorreu ao governo em 2022.
Com a publicização crescente de postulantes, a tendência é de que, nos próximos meses, e antes de outubro, mais legendas apresentem corredores, ou para a disputa de fato, ou mesmo para começar a negociar vagas nas majoritárias.
Quem já está na corrida para 2026
Edegar Pretto (PT)
A indicação para a Conab garante ao petista visibilidade e possibilidade de diálogo com o setor primário. Também o coloca como uma das lideranças gaúchas com interlocução junto ao presidente Lula. Conta ainda a favor do ex-deputado o desempenho em 2022 para o governo do RS, quando quase tomou do governador Eduardo Leite a vaga no segundo turno, surpreendendo até o próprio partido. Mas o sucesso ou não da Conab em políticas para baixar os preços dos alimentos e os movimentos das correntes internas do PT também vão influenciar a definição.
Gabriel Souza (MDB)
O vice-governador constrói a indicação para o Piratini desde a campanha de 2022, e seu nome se cristalizou a partir da vitória da chapa naquele ano. Dentro do MDB, tem aliados em postos estratégicos e a ideia é que se apresente como opção ‘de centro’. Mas possui desafetos de peso, como o deputado federal Alceu Moreira, e um grupo pretende que Sebastião Melo dispute com ele a indicação. O fogo amigo ventila a versão de que Eduardo Leite dificilmente apoiará um candidato de fora do ninho tucano. E que, por isso, trabalhará para levar Gabriel para o PSDB.
Luciano Zucco (PL)
Eleito deputado federal mais votado do RS em 2022 pelo Republicanos, Zucco trocou a sigla pelo PL no final de 2023. O lançamento de seu nome para o governo em 2026, que já era aventado na antiga legenda, tomou corpo no novo partido. E ganhou musculatura com a aproximação crescente entre ele e o ex-presidente Jair Bolsonaro, que o deputado faz sempre questão de destacar. O objetivo é aglutinar o eleitorado da direita para o centro, perpetuando a polarização. Na corrida pela indicação, ele deverá enfrentar, porém, opositores experientes dentro do próprio partido. E, fora, entre atuais aliados.
Paulo Pimenta (PT)
Mesmo que sobre a pasta da Comunicação recaiam parte das cobranças referentes à queda na popularidade do presidente Lula, Pimenta é o único ministro do RS. A condição lhe garante a vantagem de intermediar a interlocução entre o governo federal e os setores produtivos e organizados do Estado. Ele é presença constante em diferentes cidades. Participa de anúncios variados de liberação de recursos, obras e serviços. E mantém aliados nos comandos do partido. Dentro do PT, o Senado é apontado como sua primeira opção em 2026. Mas ainda estaria muito cedo para descartar o Piratini.
Pepe Vargas (PT)
O mesmo grupo que pleiteou dentro do PT a indicação da deputada estadual Sofia Cavedon para a corrida à prefeitura da Capital, vencida pela federal Maria do Rosário, vai apresentar internamente o nome do deputado para o Piratini. O grupo usará, entre os argumentos, a visibilidade que Pepe terá como presidente da Assembleia, cargo que assumirá em 2026. O parlamentar tem um currículo extenso: foi vereador e depois prefeito de Caxias do Sul duas vezes, deputado federal, ministro, e, em 2019, voltou à Assembleia. Por enquanto, porém, ainda seria “o terceiro” na fila da indicação.
Sebastião Melo (MDB)
A pretensão do prefeito de disputar o Piratini é conhecida dentro do MDB desde 2022, mas seus articuladores trabalham com cautela por três motivos principais. Porque consideram que dar visibilidade a ela afasta parte dos eleitores em outubro, já que Melo, agora, concorre à reeleição. Porque seria melhor ganhar primeiro a prefeitura de novo para depois se apresentar, com outra estatura, para o governo. E porque o MDB ainda tem na memória o que ocorreu com José Fogaça em 2010. Além disso, a pretensão faz disparar a disputa pela vaga do vice na chapa e inflaciona as negociações.