O primeiro painel sobre Produção reuniu o médico veterinário Daniel Barros, o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, José Carlos Ferrugem, e o representante da Secretaria da Agricultura, Bruno Dall´Agnol. A mediação foi da vice -presidente da Arco, Elisabeth Lemos. Barros apresentou sua visão sobre sistemas de terminação de cordeiros e a importância do sistema precoce de engorda até os cinco meses de vida. Segundo ele, o desafio é fazê-lo com menos custo. “A terminação a pasto ainda é a melhor forma aqui no Rio Grande do Sul”, disse o especialista.
Na sequência, quem apresentou dados oficiais do rebanho foi o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, José Carlos Ferrugem. Ele concentrou sua fala na problemática que envolve o número de cabeças destinadas ao abate e a quantidade de frigoríficos e abatedouros existentes. Conforme Ferrugem, a população comercial do Rio Grande do Sul é de 170 mil cordeiros e as contas nunca fecham. “Em 2022, tivemos 118 mil animais levados para o abate. Temos 148 abatedouros. Então, teríamos 1,2 mil animais por abatedouro por ano, 24 por semana”, contabilizou.
O último painelista do primeiro ciclo da manhã foi Bruno Dall´Agnol. Ele iniciou sua fala sobre sanidade animal com dados sobre os rebanhos no Brasil e contextualizando historicamente a produção de ovinos, iniciada há 11 mil anos, quando os animais foram domesticados numa região que compreende hoje a Turquia e o Irã. O rebanho mundial atualmente é de 1,266 bilhão de cabeças, sendo que o Brasil tem 20 milhões, distribuídas em 500 mil estabelecimentos de criação. Os três maiores rebanhos estão na Bahia, Pernambuco e no Rio Grande do Sul.
O segundo painel da manhã, mediado pelo presidente da Arco, Edemundo Gressler, abordou a parte da indústria tendo como palestrantes o médico veterinário Felipe Inácio Vogt, da Celebra Gourmet, de Salvador do Sul (RS); Wanderley Lemos Gomes, diretor presidente da Indústria de Carnes Frig Bahia, de Pintadas, na Bahia; e João Bernardo, sócio fundador e diretor comercial do frigorífico CarneiroSul, de Sapiranga (RS).
Vogt iniciou a sua palestra sobre “Oportunidades de agregação de valor no Mercado da Carne Ovina” ressaltando a previsão de crescimento de 60% até 2050 na demanda mundial por consumo de proteína animal, com uma taxa de aumento de 2% ao ano. Colocou que o Brasil tem condições de elevar a sua produção de carnes e em especial a ovina. “Precisamos fazer uma evolução no desempenho da ovinocultura assim como ocorreu com o frango”, defendeu.
Na sequência do painel, Wanderley Lemos Gomes abordou a “Atuação da Frig Bahia no mercado de carnes caprina e ovina no Brasil”. Trata-se de uma indústria de proteína animal constituída em 2015 sob a forma de sociedade cooperativa, instalada em Pintadas (BA), região centro norte do Estado baiano. A marca do produto desenvolvido é Fino Sertão, carnes especiais, e a indústria atua em nove Estados do país, mais o Distrito Federal. Conforme Gomes, 70% da produção em 2022 foi de ovinos e caprinos. Ele apresentou os benefícios do modelo de arranjo produtivo adotado pela Frig Bahia. “O produtor individual enfrenta limitações na compra de insumos, na adoção de tecnologias e no acesso ao mercado consumidor. E entre as consequência desse tipo de produção estão a ausência de planejamento, dependência de intermediário e sobrevivência comprometida devido à receita insuficiente para cobrir custos”, destacou.
Dando continuidade ao Painel Indústria, João Bernardo, do CarneiroSul, falou sobre o “Atual momento da ovinocultura e tendências futuras do mercado”. Disse que é preciso entender o mercado como um todo, com uma visão de 360 graus, acompanhando o mercado de hoje e o futuro, mas também usando como exemplo as experiências do passado. “O que nos move e traz resultados são as nossas paixões. É preciso ter uma visão ampla do negócio e dos investimentos. E o nosso espírito dentro do frigorífico é que a venda gera riqueza e a importância do cliente”, afirmou, lembrando que o CarneiroSul é o frigorífico que mais abate ovinos no Brasil. “Em 2022, abatemos 49 mil ovinos, neste ano 53 mil, e para 2024 a projeção é abater 74 mil ovinos”, informou.
À tarde, o terceiro painel reuniu o varejo e foi um bate-papo entre o proprietário da Loja de Carnes De Leon, Isidoro De Leon e do diretor presidente da Peruzzo Supermercados, Lindomar Peruzzo, com a mediação do produtor de ovinos e proprietário da Loja de Carnes Santa Edwiges, Aluísio Azevedo. Peruzzo, que administra a oitava maior rede de supermercados do Estado, disse que o desafio é muito grande para se superar e crescer no segmento, onde se consome de 400 a 500 gramas de carne de ovino per capita por ano. “Uma das causas para o baixo consumo é que existe pouca disponibilidade de produto no mercado. A gente compra pouco porque vende pouco e vende pouco porque compra pouco”, afirmou. Lindomar Peruzzo disse também que sua venda mensal de carne é de mil toneladas e que a de ovino representa menos de 1% deste total.
A carne ovina para o negócio de Isidoro De Leon agrega muito pouco. “Não se tem um alto giro. O único que vi dar certo com a venda de ovinos foi o seu Aloísio”, garantiu o empresário. Outro fator para o baixo desempenho da carne ovina no seu negócio, De Leon afirma que são os abates informais. “Aqui na região, como o ovino é um animal pequeno, cabe no porta malas, banco de trás, 90% das pessoas que eu conheço e que consomem carne ovina compram direto do produtor”, afirmou.
O painel Pesquisa e Inovação, que deu prosseguimento à programação da tarde, contou com os palestrantes Rafael Paglioli, chefe de Divisão do Departamento de Conhecimento para Inovação, Ciência e Tecnologia da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Sict), e Hélio de Almeida Ricardo, diretor técnico da Associação Paulista de Criadores de Ovinos (Aspaco). A mediação foi de André Bordignon, do Sebrae-RS. Dando destaque ao Selo Cordeiro Premium, Paglioli entregou o certificado para o frigorífico CarneiroSul, a primeira indústria a receber oficialmente a distinção. De acordo com Paglioli, o Selo Cordeiro Premium tem por objetivo estimular as boas práticas da cadeia produtiva que agreguem valor aos processos e produtos.
O próximo a falar foi Hélio de Almeida Ricardo que mostrou “O que o Campeonato Cordeiro Paulista trouxe para a produção da carne ovina em São Paulo”. Segundo ele, o campeonato é feito por meio de pontuações premiando o grande campeão, reservado e terceiro melhor, observando as etapas de ganho de peso e de avaliação das carcaças. “É uma forma de estimular e levar informações ao produtor sobre as características dos animais”, observou, lembrando que a etapa de ganho de peso é realizada em confinamento.
Terminando o evento, o painel Gastronomia, Consumo e Turismo Local, destacou outro ponto importante para fomentos da cadeia. Bruno Ivanoff, da Unisenac, falou sobre a desinformação cultural e os tabus da alimentação. Salientou que o trabalho realizado dentro dos cursos de gastronomia produz diversos pratos de fácil acesso ao consumidor. “Escutamos que é uma carne doce, dura e é apenas para assado. A carne ovina pode ser feita com qualquer preparo. Não é só assado, ela para na panela para qualquer preparo. Mostramos dentro dos cursos de gastronomia que ela é super fácil. Dá para fazer muito mais com pequenos movimentos da indústria, com o fracionamento. Com esse pequeno movimento já podemos mostrar que a carne ovina é saborosa”, salientou.
Segundo painelista do último painel, Giovani Peres, da Batalha Vinhas & Vinhos, falou sobre o Enoturismo na Campanha Gaúcha. Ele destacou o exemplo realizado pelas vinícolas da região como forma de fomentar o turismo no local. “Há pouco menos de 10 anos tínhamos um sonho para desenvolver essa ferramenta da campanha gaúcha. Participamos do projeto Líder, do Sebrae, e desenvolvemos projetos com pilares, e entre esses pilares estava o turismo e tínhamos vinícolas trabalhando de forma isolada o enoturismo. Com isso nos unimos e trabalhamos juntos neste desenvolvimento”, frisou.
O presidente da Arco, Edemundo Gressler, concluiu refletindo que a ideia de realizar o Dia da Carne foi feliz. “Fizemos um movimento maravilhoso e tenho certeza que outros dias virão. Esse é um desafio de que outros encontros com esses temas se estendam por outros Estados. Temos um belo caminho a percorrer. A espécie nos ensina. Desconfie quando uma ovelha estiver sozinha no campo. E nós todos, as instituições, pelo ensinamento que a ovelha nos traz, sigamos unidos pela ovinocultura brasileira. Podemos transformar esse país em um exportador de proteína ovina”, finalizou.