Nos últimos cinco anos, o agro brasileiro reduziu a informalidade e alcançou a maior taxa de formalidade nos empregos formais, elevando ainda a remuneração média mensal. A análise consta de estudo divulgado pelo Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro) que as mudanças no o universo agro (compreendido como agropecuária e agroindústria) entre 2016 e 2023 no país. O estudo foi realizado com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), e considerou o segundo trimestre de 2016 (início da série histórica para a abertura entre formais e informais) e o mesmo período de 2023.
A agricultura foi pouco afetada ao longo do período e, mesmo com quebras de safra, acumulou aumento na produção de grãos de 34,1%, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A pecuária também evoluiu e quase não sentiu os efeitos negativos da pandemia em termos de produção, uma vez que foi beneficiada pelo aumento da demanda internacional. Entre 2016 e 2023, o valor bruto da produção da pecuária aumentou 14,6%, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Ja a agroindústria registrou desempenho menos favorável, sendo fortemente impactada pela greve dos caminhoneiros e pela pandemia. Com isso, a produção agroindustrial, em 2023 (até o segundo trimestre) ficou abaixo do patamar de produção de 2016 (-4,4%), de acordo com os dados do Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro), do FGV Agro.
O bom momento da atividade agropecuária e uma maior dificuldade da agroindústria refletiram no mercado de trabalho desses setores. O estudo analisou esses reflexos e buscou responder se houve aumento da qualidade dos postos de trabalho, aumento na remuneração real média mensal e geração de novos postos de trabalho. Em termos líquidos, não houve expansão do número de postos de trabalho no setor. Entre 2016 e 2023, foram perdidos 558 mil vagas, o que equivale a uma contratação de 3,9%. No segundo trimestre de 2016, havia 14,34 milhões de pessoas ocupadas, no mesmo período de 2023, eram 13,78 milhões.
A agropecuária foi a grande responsável pela contração, uma vez que perdeu 889,2 mil ocupações (-9,6%), em queda puxada pela agricultura (-9,7%ou -583,3 mil) e pela pecuária (-9,5% ou -306,0mil). Por sua vez, a agroindústria gerou 331,2 mil postos de trabalho (alta de 6,5%), derivados do segmento de produtos alimentícios e bebidas (+18,2%ou +294,2 mil) e de produtos não-alimentícios (+1,1%ou +37,1 mil).
A queda da população ocupada foi causada, exclusivamente, pela redução de postos de trabalho informal (-10,3% ou -924,3 mil). As vagas formais registraram expansão de 6,8%, o que corresponde a 366,3 mil novos postos. Com isso, no segundo trimestre de 2023, o agro atingiu o maior número de pessoas ocupadas em vagas formais (5,7 milhões) e a maior taxa de formalidade (41,5%) para o segundo trimestre, considerando toda a série histórica disponível, iniciada em 2016.
Para comparação, no mercado de trabalho brasileiro como um todo observa-se que houve aumento das ocupações ao longo do período (+9,1%). Porém, essa alta foi puxada pelos informais, que registraram crescimento de 12,4%; os formais cresceram também, porém em proporção menor (6,7%). Com isso, a taxa de formalidade no mercado caiu ao longo dos anos, passando de 58,9% para 57,7%.
O aumento da qualidade do mercado de trabalho do agro foi puxado, principalmente, pela agropecuária: aumento de 176 mil (ou 9,4%) vagas formais, enquanto que as informais foram reduzidas em 1,1 milhão (ou 14,5%). Com isso, tem o maior número de ocupações formais (2 milhões) e a maior taxa de formalidade (24,6%) para o segundo trimestre de toda a série histórica.
Essa dinâmica de maior formalização condicionou a remuneração média do setor, que cresceu mais do que a média dos demais setores da economia. Entre o segundo trimestre de 2016 e o mesmo de 2023, a remuneração média paga aos trabalhadores do agro cresceu, em termos reais,12,6%, passando de R$ 1.793,69 para R$ 2.018,99. No mesmo período, a remuneração média brasileira cresceu em ritmo muito menor (4,3%), de R$ 2.719,44 para R$ 2.836,40.
Com isso, ao longo do tempo, diminuiu a diferença entre a remuneração paga no universo agro e a remuneração média de todos os setores da economia. Em 2016, o trabalhador do universo agro recebia 66,0% da remuneração média brasileira; em 2023, essa razão foi para 71,2%. A alta da remuneração no universo agro foi puxada, exclusivamente, pela agropecuária, que registrou alta de 24,4% na remuneração média mensal entre 2016 e 2022.
Com isso, em 2023, alcançou o maior patamar de remuneração para o segundo trimestre da série histórica, que foi de R$ 1.869,38. Dentro da porteira, o aumento da remuneração foi generalizado entre seus segmentos, crescendo muito mais do que o registrado pelo mercado de trabalho brasileiro, que foi de 4,3%. Na pecuária, a remuneração aumentou 22,3%, passando de R$ 1.687,42 para R$ 2.063,66 – também é o maior valor da série histórica para o segundo trimestre. Na agricultura, a remuneração aumentou 25,9%, passando de R$ 1.400,94 para R$ 1.764,22, a maior para o segundo trimestre da série histórica.
A agroindústria não teve aumento da remuneração média mensal. A queda foi derivada, exclusivamente, do segmento de produtos alimentícios e bebidas, cuja remuneração contraiu 6,9% no período. O segmento de produtos não-alimentícios registrou incremento de 1,0% em sua remuneração média mensal. A agroindústria do segmento de produtos alimentícios e bebidas se mostrou mais resiliente do que outros ramos industriais: a contração na indústria geral foi de 1,8% e, na indústria de transformação, foi de 4,8%.