Eram 2h da madrugada desta sexta-feira quando Thamires da Cruz dos Santos, de 24 anos, ligou para a Defesa Civil porque as chuvas invadiam a casa dela, junto a um açude repleto de plantas aquáticas e lixo, na Vila Areia, uma das mais carentes da zona Norte de Porto Alegre. A moradora pegou algumas fraldas e roupinhas para a filha de 9 meses e ficou, junto da outra filha de 2 anos e do marido, aguardando do lado de fora da casa, na chuva, por mais de uma hora, até ser resgatada e levada ao abrigo montado na Escola Alvarenga Peixoto, localizada na Ilha Grande dos Marinheiros.
“Eu fiquei debaixo de uma áreazinha lá, na rua, no meio do rio, a água estava na altura do joelho. Eles vieram às 4h, cheguei no abrigo às 4h30min, porque a caminhonete da Defesa [Civil] falhou. Só peguei fralda, lenço e umas roupinhas. Aqui consegui roupa, que foi quando nós tomamos banho e comemos alguma coisa”, relata.
Assustada, com pressão alta, e sem conseguir descansar direito, Thamires não pretende voltar para casa. Ela relata estar tendo pesadelos relacionados a cenas de afogamento. “Eu vou ficar aqui até eles me darem uma posição, porque eu não vou voltar pra lá, eu não vou esperar morrer afogada, tenho 1,43 de altura, da outra vez a água ficou na minha cintura. Eu não vou esperar sair nadando, não, morrer afogada. Eu tô tendo pesadelo com água, com afogamento, eu só choro, eu não queria estar do jeito que estou”, desabafa.
O abrigo em que Thamires e a família se encontra, montado pela Defesa Civil e a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), possibilita o acolhimento imediato de 50 pessoas, mas comporta até 200. No início da tarde desta sexta-feira, havia 15 no local.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil municipal, Evaldo Rodrigues, das 142 áreas de risco existentes em Porto Alegre, 14 fazem parte do bairro Arquipélago com tipologia de inundação. Diante do cenário meteorológico dos últimos dias e das consequências na localidade, os órgãos municipais passaram a atuar com prioridade na região, ele explica.
Em publicação no Twitter, o prefeito Sebastião Melo disse que segue monitorando o nível do Guaíba e mobilizado para atender a população, sobretudo nas ilhas. As medições da água apontaram estabilidade, de acordo com ele.
A previsão do tempo aponta para mais chuva até o fim da semana, o que pode contribuir para o aumento do nível do rio. O nível do Guaíba ainda é estável e marca 2,41m no Cais Mauá e 1,98m na água manual da Ilha da Pintada nesta sexta-feira.
Na região das ilhas, na BR 290, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou que os retornos no km 97 (Ilha do Pavão) e no km 102 (Ilha das Flores) seguem alagados, enquanto os retornos no km 98 e no km 104 foram liberados para o fluxo.