O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), deve confessar que vendeu as joias recebidas pelo ex-chefe em agendas oficiais, transferiu o dinheiro para o Brasil e entregou os valores em espécie ao ex-presidente da República. Foi o que confirmou o advogado criminalista Cezar Bitencourt à revista Veja. Durante a semana, o advogado, que acabou de assumir a causa, deu sinalizações nesse sentido.
As tentativas de vender as joias só foram paralisadas após reportagem do jornal O Estado de S.Paulo revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit com colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo da Arábia Saudita para o então presidente e a esposa, Michelle Bolsonaro. Por se tratarem de bens públicos, esses itens não podem ser colocados à venda.
Conforme a revista, o ex-braço direito do presidente vai confirmar em depoimento que ajudou na venda dos objetos de luxo nos Estados Unidos e entregou os valores a Bolsonaro. O militar vai justificar que cumpria ordens diretas do ex-chefe do Executivo e vai apontá-lo como mandante do esquema. “Resolve lá”, era a ordem dada pelo então presidente para o auxiliar, o que incluía a venda e o repasse do dinheiro ilegal para Bolsonaro, segundo o advogado.
“A questão é que isso pode ser caracterizado também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro”, disse Bitencourt à Veja. “Mas o dinheiro era do Bolsonaro”, acrescentou.
Bitencourt disse que pretende se reunir em breve com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para tratar da confissão do cliente. A intenção é que ela sirva como um atenuante na hora da definição da punição de Cid. De acordo com o artigo nº 65 do Código Penal Brasileiro, a confissão espontânea a uma autoridade, como a que a defesa de Cid pretende fazer, sempre deve dar ao réu o direito de diminuição da pena.
Na quarta-feira, um dia após se tornar advogado de Cid, Cezar Bitencourt já havia dado indícios de que a linha de defesa vai ser mostrar que o tenente-coronel apenas cumpria ordens. Ao R7, ele disse que o militar era um assessor prestativo, que resolvia problemas de toda ordem do chefe. “Ele era assessor para ajudar nas coisas do dia a dia, desde afazeres corriqueiros até alguma questão mais complexa. Ou seja, era ajudante de ordens, assessor prestativo”, afirmou.