Bolsonaro dá entrevista sem mencionar investigação da PF sobre venda de presentes

Ex-presidente disse que as prisões de ex-auxiliares tiveram o objetivo de forçar delações premiadas e atingi-lo

Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, em entrevista divulgada neste domingo, que as prisões de ex-auxiliares dele tiveram o objetivo de forçar delações premiadas a fim de atingi-lo. As declarações foram dadas ao canal Te Atualizei. Sorridente e descontraído, o ex-presidente não mencionou a operação da Polícia Federal dessa sexta, que investiga venda de joias que recebeu enquanto exercia a Presidência.

A corporação vasculhou quatro endereços ligados a aliados de Bolsonaro em busca de provas de um suposto esquema internacional de venda de joias e bens de alto valor que Bolsonaro recebia como presentes em agendas oficiais fora do país. Para a PF, há indícios de que o ex-presidente esteja diretamente envolvido no esquema e tenha recebido dividendos das transações em dinheiro vivo.

Sem falar na operação dessa sexta, Bolsonaro mencionou as prisões de pessoas do entorno dele, nomeando os ex-ajudantes de ordens, Mauro Cesar Barbosa Cid e Luis Marcos dos Reis. Os dois foram presos em 3 de maio no bojo da operação Venire, que investiga fraudes nos cartões de vacinação do ex-presidente e da filha, Laura. “Eu tenho dois auxiliares diretos meus presos há 90 dias. Tenho dois que não eram diretos meus que estão presos ainda, são da ativa, que são o Cid (Mauro Cesar Barbosa Cid), mais o sargento Reis (Luis Marcos dos Reis).”

Em seguida, Bolsonaro disse que o objetivo das prisões é forçar delações premiadas. “O objetivo é sempre uma delação premiada. Vai delatar o quê? E o outro (objetivo), é me atingir.” Na entrevista, ele não deu detalhes sobre quem são os outros dois auxiliares diretos citados por ele. Além de Mauro Cid e Reis, a Polícia Federal prendeu Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal na última sexta, e Ailton Barros, militar expulso do Exército, que na campanha passada se dizia o “01” de Bolsonaro no Rio de Janeiro.

Antes de mencionar os aliados presos, Bolsonaro disse que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro “está indo muito bem” e falou dos manifestantes também encarcerados. “Logicamente não esqueço o sofrimento das 200 e poucas pessoas. São seis meses presos.”

Vaquinha de R$ 17 milhões, isenções fiscais e inelegibilidade
Bolsonaro lembrou o episódio da vaquinha feita por apoiadores, que lhe rendeu mais de R$ 17 milhões em doações. A entrevistadora disse “o senhor é um fenômeno, é quase pop” e o ex-presidente interrompeu “até o Pix revelou isso aí. Eu não pedi, mas agradeço. Foi uma iniciativa de muita gente”.

Por quase trinta minutos, o tema da conversa foram as medidas fiscais e as isenções tributárias concedidas na gestão de Bolsonaro. O ex-presidente reforçou que vai continuar atuando nos bastidores da política e nas próximas eleições. “O grande jogo vai ser em 2026. Vamos ter pelo menos um nome em cada estado. Uns 222”, disse, em referência ao número do Partido Liberal, ao qual é filiado. “Eu inelegível acho que posso trabalhar muito mais do que elegível.”

A entrevista encerrou com comentários sobre a indicação de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal e a suposta pretensão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por uma vaga na Corte.