Após investigações, a Polícia Federal (PF) informou que presentes recebidos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro saíram do país em uma mala transportada no avião presidencial. De acordo com a PF, o então ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid participou do desvio dos itens. O transporte ocorreu em 30 de dezembro ano passado, quando Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, nos últimos dias de mandato.
As conclusões aparecem no relatório da investigação que baseou a deflagração da Operação Lucas 12:2, que apura o suposto funcionamento de uma organização criminosa para desviar e vender presentes de autoridades estrangeiras durante o governo Bolsonaro. Na manhã desta sexta-feira, a PF realizou buscas e apreensões contra Mauro Cid, o pai dele, general de Exército, Mauro Lourena Cid, e o ex-advogado de Bolsonaro Frederick Wassef.
Conforme regras do Tribunal de Contas da União (TCU), os presentes de governo estrangeiros devem ser incorporados ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, setor da Presidência da República responsável pela guarda dos itens, que não podem ficar no acervo pessoal do chefe do governo.
Segundo as investigações, os desvios começaram em meados de 2022 e terminaram no início deste ano. Em um dos casos descobertos pela PF, o general Cid recebeu na própria conta bancária US$ 68 mil pela venda de dois relógios, um Patek Phillip e um Rolex. O militar era lotado no escritório da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), em Miami.
De acordo com as investigações realizadas até o momento, entre os itens que foram retirados do país no dia 30 de dezembro, há esculturas de um barco e de uma palmeira folheadas a ouro, recebidas por Bolsonaro durante viagem ao Bahrein, em 2021. Conforme a investigação, Mauro Cid tentou vender os itens em lojas especializadas na Flórida, Estados Unidos, mas não conseguiu porque não eram 100% de ouro.
O ex-ajudante também tentou desviar um conjunto masculino de joias da marca suíça de acessórios de luxo Chopard, composto por caneta, abotoadura, anel, rosário árabe e relógio. Os presentes foram recebidos durante viagem presidencial à Arábia Saudita, em 2021. Segundo a PF, Mauro Cid negociou o kit em uma casa de leilão de artigos de luxo nos Estados Unidos, mas as joias não foram arrematadas. Os investigadores estimaram que os itens podem valer US$ 120 mil.
Descoberta
A PF também informou ter sido realizada uma “operação para devolução” de um kit de joias após a imprensa divulgar as primeiras informações sobre o caso dos presentes recebidos por autoridades estrangeiras, e o Tribunal de Contas da União (TCU) determinar a devolução. Conforme inquérito, a devolução do kit ocorreu em duas etapas.
De acordo com a PF, Frederick Wassef, ex-advogado de Bolsonaro, recuperou um dos relógios Rolex, que havia sido vendido, e o trouxe ao Brasil após viagem dos Estados Unidos. Em seguida, entregou o item à Caixa Econômica Federal. Em outro voo, Mauro Cid saiu de Miami para Brasília e entregou o restante das joias do kit para Osmar Crivelatti, que também era ajudante de ordens de Bolsonaro.
“O relógio Rolex Day-Date vendido para a empresa Precision Watches, foi recuperado no dia 14/03/2023 pelo advogado Frederick Wassef, que retornou com o referido bem ao Brasil na data de 29/3/2023. O mencionado advogado entregou o bem a Mauro Cid, em 2/4/2023, na cidade de São Paulo, que, a seu turno, retornou o bem à Brasília na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti”, disse a PF.
Defesa
A Agência Brasil entrou com contato com a defesa de Mauro Cid e aguarda retorno. A reportagem também busca contato com as defesas dos outros alvos da operação.