O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, preso nessa quarta-feira, passou mal duas vezes durante o depoimento à Polícia Federal, nesta quinta-feira, em Brasília. Ele precisou ser atendido por brigadistas do órgão. Na oitiva, o delegado negou que tenha agido para interferir no resultado das eleições do ano passado.
Como noticiou o R7 na manhã desta quinta-feira, a defesa de Vasques confirmou que as autoridades investigativas não ofereceram delação premiada. “Ele não aceitaria, porque quem delata é criminoso”, declarou o advogado Eduardo Simão. A fala ocorreu na saída da sede da Polícia Federal.
De acordo com a defesa, a mensagem do coordenador da PRF Adiel Alcântara a respeito de “policiamento direcionado” se refere a ações gerais da instituição — e não à perseguição a eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Cada atividade da PRF, cada operação tem uma direção, como meio ambiente e questão de crimes eleitorais”, disse Simão.
Vasques teve prisão preventiva decretada em casa, na região metropolitana de Florianópolis, nessa quarta-feira, por suspeita de uso da máquina pública para interferir no processo eleitoral do ano passado. O pedido de prisão se baseou, entre outras provas, em mensagens encontradas em celulares de servidores da PRF que prestaram depoimento no caso.
Além da prisão do ex-diretor-geral, 47 policiais rodoviários que participaram de uma reunião com Vasques em 19 de outubro foram ouvidos pela PF na quarta-feira. Fontes ouvidas pela Record TV dizem parte dos depoimentos pode incriminar o ex-chefe da corporação.
No inquérito da Justiça Eleitoral do Distrito Federal que corre em paralelo, o ex-diretor-geral responsabilizou o Ministério da Justiça e Segurança Pública pelas operações da PRF no segundo turno do ano passado, diferentemente do que havia dito à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. Na ocasião, ele declarou aos parlamentares que não houve diferença de atuação da corporação do primeiro para o segundo turno.
A defesa de Vasques, após o depoimento à PF nesta quinta, minimizou a declaração do ex-diretor-geral sobre a pasta. “A PRF é subordinada ao Ministério da Justiça [e Segurança Pública], tem que obedecer, mas não teve nenhum pedido [de intensificar fiscalizações]. O ministério pediu para a PRF cumprir a legislação”, declarou o advogado Eduardo Simão.
‘Policiamento direcionado’
Mensagens obtidas pela PF sugerem que Silvinei tenha ordenado um “policiamento direcionado” contra eleitores do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições de 2022.
Em 29 de outubro, em mensagens trocadas entre o policial rodoviário federal Adiel Pereira Alcântara, então coordenador de Análise de Inteligência da PRF, e Paulo César Botti Alves Júnior, subordinado a ele, o próprio Alcântara criticou a conduta de Vasques. Ele fala que o ex-diretor-geral havia falado “muita m…” nas reuniões de gestão, notadamente determinando o “policiamento direcionado” das equipes da corporação nas blitze realizadas no segundo turno das eleições.
Conversas de WhatsApp de 12 de outubro no celular de Alcântara com o policial rodoviário federal Luís Carlos Reischak Júnior, então diretor de Inteligência da PRF, também sugerem a orientação de uma ação ostensiva para o dia 30 do mesmo mês. Chamou a atenção da PF um trecho que menciona abordagens de ônibus levando passageiros de São Paulo para o Nordeste.
À Record TV, a defesa de Vasques disse, em referência ao mapeamento dos eleitores de Lula, que ele não pode ser responsabilizado por atos que tenham sido cometidos por outras pessoas.