Cid enviou email com questionamento sobre urnas a militar que compunha comissão no TSE

Documentos obtidos pela CPMI do 8 de Janeiro revelaram que orientações sobre fiscalização das eleições partiram do Planalto

Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid enviou um email com orientações ao coronel Wagner Oliveira da Silva, militar que fazia parte da comissão do Ministério da Defesa que fiscalizou e acompanhou a apuração dos votos nas eleições de 2022. No email, Cid sugere ações para “aperfeiçoar a segurança e transparência das urnas eletrônicas”. Os emails, em caráter sigiloso, foram revelados pela CPMI do 8 de Janeiro, que investiga os atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes.

No documento, enviado em 21 de julho de 2022, Cid usou o email institucional, com endereço do Palácio do Planalto. No entanto, o texto sugere a apresentação das ações como sendo uma proposta das Forças Armadas. Para isso, Mauro Cid usou o timbre do Ministério da Defesa. O R7 procurou a pasta para comentar o caso e aguarda um posicionamento.

No email, Cid sugere que o coronel Wagner proponha três ações ao TSE:

1- Realizar o teste de integridade das urnas eletrônicas nas mesmas condições da votação, inclusive com a utilização da biometria do próprio eleitor. A finalidade era reduzir a possibilidade de um código malicioso escapar do teste;

2- Implementar, ainda em 2022, o Teste Público de Segurança (TPS) das urnas modelo UE2020. O objetivo era assegurar o funcionamento do sistemas das urnas de forma integrada, adequadamente e com menores risco de segurança;

3- Tomar efetivas a fiscalização e auditoria pelas entidades fiscalizadoras em todas as fases do processo, com a finalidade de aumentar a transparência.

Na época em que recebeu o email de Mauro Cid, o coronel Wagner era subchefe da equipe de fiscalização das Forças Armadas. Meses depois, após o segundo turno das eleições, militares técnicos do Ministério da Defesa produziram um relatório sobre o processo eleitoral em que descartaram irregularidades.

No entanto, apontaram possíveis “vulnerabilidades” no sistema de votação. Além disso, eles reclamaram não ter recebido total anuência do TSE para a implantação de mudanças práticas no sistema de votação.

Emails de Mauro Cid
As trocas de mensagens de Mauro Cid se tornaram objeto de investigação na CPMI do 8 de Janeiro. Emails em posse da comissão sugerem que o ex-ajudante de ordens tentou, inclusive, vender um relógio da marca Rolex recebido em uma viagem oficial do ex-presidente Jair Bolsonaro à Arábia Saudita.

Diante das revelações, parlamentares da comissão levantaram a possibilidade de uma nova convocação de Cid ao colegiado.