Em decisão dividida, Copom corta em 0,50 ponto percentual a taxa Selic

Índice veio acima da mediana das expectativas do mercado

Foto: Marcelo Casal/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou no começo da noite desta quarta-feira, 2, a redução da taxa de juros brasileira, a Selic, para 13,25%, um recuo de 0,50 ponto percentual e o primeiro depois de três anos de alta do indicador. A decisão surpreendeu e veio acima da mediana das expectativas do mercado, embora nas últimas horas tenha crescido a expectativa por um corte mais agressivo, como acabou ocorrendo.

Com isso, a decisão acabou surpreendendo as apostas do mercado financeiro no primeiro encontro em que participaram os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino. Um levantamento com quase 50 bancos e casas de análise revelou que 78% deles acreditavam em uma redução da Selic em 0,25 ponto percentual, sendo que os demais tinham a expectativa de um corte de 0,50 ponto percentual. A mesma opinião deste grupo tinha o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que iniciou a quarta-feira com uma série de entrevistas falando na queda da taxa, projetando inclusive acima dos 0,50 ponto percentual.

TAXA REAL

Descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses – acima de 4%, segundo relatório Focus, do BC – os juros reais ficaram em 6,68%, taxa suficiente para manter o país no topo da lista, acima de México, Colômbia, Chile e África do Sul.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) se justifica porque, ao longo do ano, as condições para o início do ciclo de cortes nos juros foram se materializando.

“Desde a última reunião do Copom, o cenário econômico brasileiro avançou de tal maneira a oportunizar o início do processo de flexibilização da Selic com segurança. Isso só foi possível devido à continuidade do processo de desinflação e uma série de fatores internos que impulsionaram a queda das expectativas de inflação, como a manutenção das suas metas e a aprovação da Reforma Tributária na Câmara”, disse Petry.

Para o economista chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, o que mais chama a atenção é que não se tratou de uma decisão unânime. “Foram 5 votos para corte de 0,5 ponto percentual e 4 para corte de 0,25. Copom absolutamente dividido, assim como o mercado”, comentou. Para ele, a decisão vai ajudar, mas os impactos na economia real não serão sentidos de imediato.

Para o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, a decisão do COPOM deve ser muito bem-recebida. Nos últimos 45 dias, apesar do aumento da incerteza no cenário internacional, especialmente ligada à evolução do preço dos alimentos, em linhas gerais acumulou-se uma série de elementos sustentando uma redução mais intensa da Selic, avaliou o dirigente.

“Sabemos que estamos no início de um ciclo de queda que esperamos que dê algum impulso à atividade no curto prazo, mas temos ciência de que a queda estrutural das taxas de juros no país está condicionada necessariamente a um controle mais efetivo das contas públicas e a outras reformas que enderecem aumento da produtividade da economia brasileira no médio e longo prazo”, comentou.

CORTE ACERTADO

Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), houve uma decisão duplamente acertada: tanto na magnitude quanto no momento da economia do país. No entendimento da entidade, o corte se mostra correto considerando, principalmente, as quedas nos índices de inflação e as perspectivas para os próximos anos, assim como a melhora da avaliação do Brasil em agências de classificação de risco.

A ata do comitê, que vai ser divulgada na próxima semana, deve trazer respostas a outras dúvidas do mercado financeiro, como por exemplo, qual vai ser o comportamento do órgão nas próximas reuniões de 2023.