MP abre inquérito contra Tinder por dificultar o acesso a informações sobre sequestradores

Empresa garante que está cooperando e que vai lançar portal exclusivo para as autoridades no Brasil

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou um inquérito civil contra o aplicativo de relacionamentos Tinder a fim de obrigar a plataforma a compartilhar dados de sequestradores com a Polícia Civil. O app vem sendo utilizado como ferramenta, através da criação de perfis falsos, na prática do famoso “golpe do amor”.

A investigação é realizada pelo Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), com auxílio da Divisão de Antissequestro (DAS) do Departamento de Operações Policiais Estratégicas da Policia Civil paulista.

Por enquanto, o órgão afirmou que não vai se manifestar sobre o inquérito, aberto em maio. “[A investigação] está sob sigilo e no aguardo algumas diligências”, informou o MP em nota.

De acordo com o delegado Eduardo Bernardo Pereira, titular da 1ª DAS, analisando os casos dos últimos dois anos, o Tinder é o aplicativo de relacionamento mais utilizado pelas quadrilhas por ser o mais conhecido entre os usuários.

Uma das fragilidades da plataforma, apontada pelo delegado, é a possibilidade de os criminosos criarem, facilmente, perfis falsos com fotos de mulheres retiradas da internet para ludibriar as vítimas.

Na terça-feira passada, a Polícia resgatou um médico, vítima do “golpe do amor”, após ele ser mantido refém por cerca de 30 horas em um cativeiro na Brasilândia, zona Norte de São Paulo. Segundo a polícia, o profissional da saúde mora em São Roque, no interior do estado, e veio à capital depois de marcar um encontro por meio do Tinder.

Desde o início da prática dessa modalidade de sequestro, em 2021, mais de 500 pessoas foram presas em SP, sendo 80 somente neste ano. Ao R7, Pereira conta que o diálogo com o Tinder e outros aplicativos de relacionamento sempre se mostrou difícil. A empresa não compartilha as informações sobre as contas criadas pelos sequestradores.

“Existe uma série de informações que eles podem passar que vão ajudar a desmantelar a quadrilha, como o número de telefone registrado na conta e de qual local a internet é utilizada [pelos criminosos]. São subsídios para [auxiliar] as investigações”, explica o delegado.

Sequestros
Segundo o último levantamento da Divisão Antissequestro, do início do ano, 9 de cada 10 sequestros em São Paulo eram praticados por meio dos aplicativos de relacionamento. Além disso, todas as vítimas eram homens.

Na avaliação do delegado, esse tipo crime vem diminuindo ao longo dos últimos dois meses. “No ano passado, recebíamos em média dois casos de sequestros por dia. Atualmente, o número é de [aproximadamente] dois por semana”, compara Pereira.

Apesar dessa percepção, a Polícia Civil ainda não finalizou um levantamento atualizado sobre a quantidade de sequestros na cidade.

Veja a nota do Tinder na íntegra:
“Cooperamos com as autoridades dos mercados em que atuamos, fornecendo informações para auxiliar em suas investigações. Com o objetivo de aperfeiçoar os processos com as autoridades, o Match Group foi a primeira empresa do setor a lançar um portal exclusivo para as autoridades. Com uma equipe de atendimento dedicada, estamos no processo para lançar este portal no Brasil e em outros países”.