O Ibovespa perdeu o fôlego, nesta quinta-feira, e trabalhou abaixo dos 100 mil pontos pela primeira vez em nove meses. Às 12h11min, o índice de referência da bolsa de São Paulo, a B3, caía 0,47%, a 99.747,83 pontos, um dia após o Banco Central (BC) sinalizar, no dia anterior, haver pouco espaço para corte de juros no país. O movimento teve as varejistas Magazine Luiza e Via entre as maiores quedas, pela manhã.
Um pouco mais cedo, o Ibovespa chegou a 101.125,76 pontos, endossado por Wall Street e refletindo ajustes. A queda se acentuou no início da tarde: às 14h10min, o índice caía para 98.739,67 pontos, uma retração de 1,48%.
Nessa quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% ao ano, reforçando que vai “perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional”.
Além dos reflexos no custo do dinheiro, o posicionamento da autoridade monetária corrobora o receio de um acirramento da tensão entre o governo e o banco, uma vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria a redução da Selic e vinha pressionando a instituição.
“No mercado, há a percepção de que a temperatura esquentará ainda mais entre o presidente Lula e o BC, com mais troca de farpas, pressão e críticas, o que pode contaminar o cenário”, falou o superintendente da Necton/BTG Pactual, Marco Tulli.
“As medidas recentes do governo vão contra o movimento feito pelo Copom, que foi mais duro do que o governo esperava”, acrescentou. O comunicado do BC reforçou a visão de grandes bancos, de que reduções na Selic ficarão para o segundo semestre do ano, possivelmente só para o fim desse período.
Para o economista-chefe da Mirae Asset Wealth Management (Brazil) CCTVM, Julio Hegedus Netto, é inevitável o escalonamento das tensões entre a instituição e o Executivo, conforme relatório enviado a clientes nesta quinta.
“Havia um debate em torno de como o BCB iria responder às ‘demandas’ do governo. Se cedesse, sinalizando redução da Selic neste ano, poderia mostrar perda de autoridade, e se mantivesse uma conduta mais ‘hawkish’ [comportamento agressivo, incisivo; na economia, indica postura de combate à inflação pelo aumento dos juros], como acabou ocorrendo, seria interpretado como intransigente na defesa da autonomia e atuação como ‘guardião da moeda’. Optou pela segunda opção.”
Hegedus Netto acrescentou que “a impressão que se tem é que, nesta escalada, quanto mais o governo ‘protestar’ contra a política de juros, mais o BC deve endurecer, isso, claro se piorarem as expectativas fiscais e inflacionárias”.
Ele avalia que a ‘paz’ pode ser estabelecida se houver um avanço concreto no encaminhamento do ajuste fiscal, e um arcabouço fiscal consistente e abrangente.
A partir daí, então, é que veremos um alívio de fato”, afirmaram Fábio Perina e equipe do Itaú BBA, em relatório. Para abandonar a tendência de baixa, o Ibovespa precisa ultrapassar os 106.700 pontos, disseram.
Nos Estados Unidos, Wall Street tinha uma sessão positiva, o que endossou os ganhos no pregão brasileiro mais cedo.